sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Primeiro Emprego -35

A grana andava meio curta.
Por volta dos 14 anos, parece que a coisa andava pesada em casa.

Sutilmente me foi sugerido que arranjasse um emprego.
(imagem da net)
A maior porta de entrada dos meninos para o mercado trabalho nos anos 60, era iniciar como office-boy.
Não fiz muita força, mas alguém em minha casa fez essa força por mim.
Minha mãe me deu um endereço no centro da cidade para visitar meu tio que tinha um escritório à Rua Jose Bonifacio (centro).
Munido de força alguma força, fui até lá pra ver no que ia dar.

Sai cedo. Chegando ao local fui recebido pelo meu tio (irmão de minha mãe).
Explicou como era o serviço e quais seriam as minhas funções.
Era um escritório de contabilidade com vários clientes.
Foi explicado que na parte interna, o serviço seria colar faturas de duplicatas banhadas em gelatina nos livros contábeis de cada firma. E na parte externa deveria ir a bancos pagar contas, levar documentos nas empresas que eram clientes, cartórios e coisas do tipo.
Aceitei na hora e já me pus a trabalhar.


(fotos da net)
Aprendi rápido o serviço colar faturas no livro caixa: cópias carbonadas de duplicatas e pagamentos eram colocadas em ordem no diário coberto com um pano branco.
Na hora do almoço, todos saiam, mas eu ficava para dar cobertura no atendimento telefônico.
Quando todos chegavam, era minha hora de almoço, trazido de casa.
Ao abri-la vinha aquele cheiro de ovo frito na cara.

Na semana seguinte, deixei de levar a “dita”
Depois de fazer a minha hora do almoço, saia para cobrir os bancos, cartórios e fazer alguns recebimentos.
Assim que terminava tudo, poderia ir direto pra casa, trazendo no dia seguinte os comprovantes dos serviços agendados.

Esse serviço de rua acaba levando a descobertas e troca de informações entre os boys, de coisas que muita gente desconhece.

Toda vez que eu saia às ruas, ficava namorando as roupas da PRIBA, uma loja de roupas masculinas que se mantém ativas até hoje.
Ficava um tempão admirando camisas, calças, cintos e outras coisas.

Era moda na época, ter uma calça LEE (que era importada). O preço ficava próximo de 18,00. (o preço da calça era em dolares) 

Muita gente desejava comprá-la, mas eram raríssimos os locais onde vendiam essa calça. Entre alguns eram a Priba e a Galeria Pagé.

O salário mínimo naquele momento era de CR$ 42,00. E eu iria ganhar CR$ 21,00 por mês

A paixão pela calça despertava a imaginação de muita gente.
Chegou a sair nos jornais da época de que pessoas desavisadas a procura de obter vantagem, terem ido a uma lojinha da galeria do rock em busca da calça Lee.
As pessoas eram paradas nas ruas se estariam interessadas em comprar a tal calça com bom abatimento.
Claro que as pessoas se interessavam.
Diziam que estavam vendendo 6 calças Lee pelo preço de duas, perto de CR$ 30,00 
Era combinado o preço, o dia e hora e local da entrega.
No local e hora combinada, o vendedor e compradores finalizavam o negocio.
As calças vinham embrulhadas em jornal em pacotes fechados em frente ao teatro municipal entregues mediante a conferência do dinheiro. Os vendedores pediam discrição para não abrir o pacote na rua por causa dos fiscais.
Junto com o pacote entregavam um cartão de uma loja de roupas da galeria do rock, caso precisassem trocar por outro número.   
Com o pacote nas mãos a pessoa corria para alguma lanchonete para abrir e apreciar as calças.
Grande surpresa ao abrir e verificar que haviam sido enganadas e ali somente tinha pedaços de panos enrolados em jornal.
Desespero, pânico e impotência das pessoas ao cair a ficha de terem sido enganadas. De nada adiantava procurar ajuda ou a policia.

Sabedor da situação pelos jornais, diariamente namorava minha calça Lee na vitrine da Loja PRIBA.
Semana a semana fazia meu serviço só no aguardo de chegar a minha vez.  
Além do meio salário acabei ganhando a grana pra condução e também para o lanche.
Meu serviço estava a contento.
Meu sonho estava vivo e crescia a cada dia que se passava.

Aguardava com ansiedade a chegada do dia para receber meu 1º. pagamento.
Aproximava-se o dia 10.
Um dia antes, minha mãe me fez um pedido: Levar um dinheiro para o meu tio alegando que estava devendo a ele determinada quantia.
A seu pedido levei a quantia em um envelope com o dinheiro.

Ao entregar o envelope, meu tio abriu para ver do que se tratava e viu que era dinheiro e contou: eram CR$21,00. Pediu para que agradecesse a ela.

Afinal chegou o meu dia esperado.
Na hora do almoço sou chamado para assinar o meu pagamento.
Assino uma folha e recebo um envelope igualzinho ao do dia anterior e com as 21 notas de CR$ 1.00. Aquilo me soou estranho.

Mas estava mais interessado no meu sonho.
Fui à loja e experimentei a minha calça Lee. Seria preciso apenas fazer a barra.
Mandei embrulhar e cai no mundo.
O preço da calça havia sido de 20,00, praticamente todo o meu salário.
Mas eu estava feliz, radiante e subindo nas nuvens.

Cheguei em casa rindo a toa.
Quis contar logo a novidade, mas fui interrompido pela minha mãe que perguntava se havia recebido.
Disse que havia recebido e comprado uma calça e que não havia sobrado nadinha,

Era chorou sem parar.
Tentei consolar. Mas não houve jeito.
Levei uma baita bronca por ter gastado todo dinheiro de um mês de trabalho que ela havia economizado...

Ai caiu a minha ficha. A grana que havia levado um dia antes era o mesmo que eu recebera.
De repente caiu a ficha de tudo.

Estava trabalhando e minha mãe é quem estava  bancando o meu salário. Achava aquilo um absurdo.
Não conseguia entender o raciocínio usado por minha mãe.
Logo que meu pai chegou e se interou do acontecido, acabou ficando possesso com tal procedimento, pois desconhecia o acordo feito pela minha mãe.
(imagem da net)
Meu pais era estabelecidos e tinha vários empregados. A situação andava critica, mas pagava  todos os funcionários em dia.
Me pais afirmou que jamais tinha ouvido falar de alguém que pagasse para trabalhar.

Final da história: Fiquei com minha calça Lee.
                        No outro dia comecei a trabalhar com meu pai recebendo um pouco mais do que no outro emprego.  


Por muito tempo esse relato era assunto recorrente nas reuniões de final de ano em família

Luigy 09/02/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário