sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Minha Primeira Fotografia -33

A primeira foto

Muito cedo fui contagiado pela sétima arte, assistindo uma sessão de cinema em uma pracinha no bairro onde morava.
O cinema nos leva às fantasias e aventuras.
A possibilidade de recriar momentos históricos de qualquer data, dando-lhe animação, frescor e dinamismo eram coisas incríveis que os filmes traziam para qualquer pessoa.
Fui tocado profundamente por esse tipo de arte.
(arquivo pessoal)
Mas cinema era algo meio distante em termos de aplicação principalmente para as classes mais humildes.

Mas quanto à fotografia, prima-irmã do cinema, já era mais fácil o seu manuseio em relação aos filmes.

Na época de meu nascimento em 1949, meu pai estava interessado na fotografia.
Aprendeu todo o processo da revelação em preto e branco. Suas fotos saiam de câmeras do tipo caixote que eram populares. Aproveitava o tempo ocioso em casa para revelar seus negativos, que depois de devidamente processados, poderiam gerar copias fotográficas.
Sei que ele se divertiu um bocado tirando fotos de seu filho recém nascido...


Próximo ao meu aniversário de 8 anos, ele já desfilava com uma Rolley-Flex que era muito bem guardada aos olhos de qualquer ser humano curioso.

As festas e aniversários eram sempre registradas.
As viagens também mereciam sua atenção.

Sempre que podia, ficava de olho no modo como ele manejava sua câmera.
Estava a espreita para saber como tudo se iniciava.
Em forma de capítulos fui fazendo o meu aprendizado sem que ele percebesse.
O difícil era saber o esconderijo onde ela guardava.

Quem espera sempre alcança... Tarda mas não falha.
Enfim o dia chegou.
(foto da net)
Na noite anterior meu pai chegara de viagem do Rio Grande do Sul em companhia de minha mãe onde foram comemorar  25 anos de casamento. Foram e voltaram de carro com duração de 25 dias. Voltara cansado da viagem.

Meu pai tinha como costume mato-grossense tirar uma pestana após o almoço. E no caso era sempre na sala com a TV ligada.


Ao passar pelo quintal percebi que sua câmera estava dando sopa em cima da penteadeira de minha mãe.
Fui sondar quais eram as condições.
Meu pai tirava sua pestana com grande roncos que se escutava de longe.

Com cuidado atravessei a sala em direção ao quarto dele.
Já dentro dei de cara com aquele tesouro.
Fui conferir se ele ainda dormia e vi que estava tudo calmo.

Sem demora me pus a mexer em tudo, apertando todos os botões que havia.
Olhei e mexi em tudo
Consegui armá-la para dar o clic, mas com a excitação  não conseguia fazer o foco correto ficando tudo embaçado.

Estava em frente ao espelho da penteadeira manuseando sem querer apertei o botão de disparo e deu-se um clic.

Assustado, deixe tudo ali e pulei a janela do quarto e me mandei.
Passaram-se dias e acabei por esquecer do assunto.

Nesse mesmo dia meu trouxe para casa o envelope contendo as fotos de sua viagem. Eram mais de 4 rolos de filmes.

Meus pais se deliciaram vendo as fotos e recordando pessoas e lugares por onde passaram.

Depois de algum tempo, ouvi meu pai chamar pelo meu nome.
Ao me aproximar, ele logo perguntou se eu havia encostado o dedo na sua maquina.
Claro que eu disse que não.
Ele então me mostra uma foto toda embaçada tirada diante do espelho com um cara pequeninho atrás da câmera clicando.
Putz essa não dava para mentir e nem escapar.

Acabei indo pro castigo com um puxão de orelha, coisa clássica da época.

Ao invés de me afastar das fotografias, isso acabou me aproximando mais ainda.
Minha madrinha de batismo, de profissão médica, viajava pelo mundo todo sempre tirando suas fotos. Ao saber de minha aventura, trouxe de presente uma maquina tipo caixão da Agfa 6x9. Teve toda paciência do mundo para me ensinar a tirar boas fotos. Graças a ela fui iniciado nessa arte.

Anos depois, ela me deu um livro de bolso que ensinava como revelar fotos em casa de maneira simples.
Em menos de um ano eu havia construído um aparelho em madeira ( caixote de laranja) devidamente modificado para fazer copias do negativo diretamente ao papel. Neste aparelho colocam-se dois tipos de lâmpadas para sensibilizar o papel pelo negativo.
Depois desse processo levava o papel para banho no revelador, depois no fixador e por ultimo em água corrente. Punha-se pra secar e estava pronto.

Jamais esqueci a emoção ao ver pela primeira vez, no quarto escuro aquele papel branco, mas sensibilizado, de repente do nada aparecer uma imagem. No primeiro momento a imagem era fraca e sem brilho. Aos poucos ela tomava sua forma final e aquilo que fora capturado em momento único, aparecia com força, eternizando aquele instante. Era mágico.
Minha mente ficava querendo entender muito rapidamente como tudo tinha acontecido.
Este momento ficou marcado com todos os cheiros e odores de acido acético em minha lembranças visuais e olfativas.

Ainda hoje não conseguir realizar minha rota em direção ao cinema. Mas estamos tentando reviver a sensação do primeiro filme visto.
  

A primeira foto que tirei em frente ao espelho, ficou guardada até 2005, quando a levei para uma exposição de Pinhole ou foto de lata na Escola Alves Cruz e acabou se perdendo.

11/12/2011
Luigy

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