segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Aqueles carnavais que não voltam jamais...40

Era um tempo onde reinava a alegria, diversão e um pouco de inocência juvenil... nos idos anos 50.

Pessoas com fantasia nas ruas.
As crianças se reuniam em bando para jogar lança-perfume nas pernas das mulheres que se assustavam ao sentir algo gelado subir pelas pernas ou então jogada nas costas desnudas das mocinhas que ao sentir o impacto gelado no corpo quente se encolhiam soltando gritos frenéticos e saiam correndo na direção de quem estava jogando.

Mas para quem não tinha muita grana, a saída era usar o “sangue de diabo”.
Uma receita bastante utilizada pela gurizada eram as bisnagas com sangue de diabo:
“Em um balde d’água com de 5/10 litros se colocava uma folha inteira de papel de seda vermelha (usada para fazer pipas). No balde era adicionado 5 comprimidos do laxante Lacto-Purga, seguido de um vidro de 5 ml de éter e algumas gotas de qualquer perfurme”. Parecido com as bruxas usavam um pedaço de pau para fazer a mistura e apurar aquele caldo. A meninada enchiam suas bisnagas e corriam para os semáforos a espera do farol fechar... carros e ônibus c/janelas abertas eram os alvos preferidos.
Aquilo pegava no olho e ardia pra caramba e se caísse em roupa branca ferrava tudo.
Meus pais, tios e tias se reuniam para pular o carnaval durante 4 dias no Acre Clube no Tucuruvi.
Todos iam fantasiados a cada ano com um tema novo. E levavam um arsenal  de lança perfumes, sacos de confetes e serpentina. E nas bolsas das mulheres, devidamente escondido garrafas de whisky que eram misturadas com guaraná.
Meus pais e tios se divertiam bastante e os comentários se estendiam por vários finais de semana.


No domingo e na terça era nossa vez, a criançada.
Meus primos e eu também nos fantasiávamos meio a contra gosto.
Durante vários carnavais meus pais me levaram as matines dos carnavais.
Aquilo se tornara um balsamo para mim.
A partir dos oito ou nove anos aguardava ansiosamente a chegada do carnaval por duas razões: Poder usar as bisnagas com sangue de diabo e a outra era para pular o carnaval.
A segunda era a mais esperada: depois da experiência inicial de ter dançado/pulado o primeiro carnaval com uma loirinha de olhos azuis de nome Sibele com fantasia de tirolesa, aguardava ansioso u novo carnaval para reencontrá-la.
Sem nenhum compromisso ou qualquer combinação, nos encontramos durante cinco carnavais. Mesmo sendo do mesmo clube, só nos encontrávamos o nos carnavais. Um ficava esperando a chegada do outro.
Pulávamos e brincávamos de mãos dadas durante o baile todo.

Sentíamos mais do que falávamos.
Risadas, olhares e mãos coladas uma na outra o tempo todo.
Ao final de cada dia, nos despedíamos com um beijo no rosto mas com sensação de uma longa história de amor...
 Ano a ano os encontros se repetiam com sentimentos e emoções revitalizadas.

Acabei mudando de bairro da zona norte para zona sul e como conseqüência não fomos mais ao clube.
Acabei perdendo o contato com ela, mas as lembranças boas ficaram gravadas.

Felizmente meus avós moravam no mesmo bairro.

Numas das visitas dominicais aos meus avós, fui dar um rolê pelo bairro e acabei passando pela rua da feira do bairro que ficava na rua casa forte.
Com meu primo ao lado percorremos a rua da feira sem qualquer objetivo.

Para evitar o tumulto e trança-trança dos carrinhos de feira optamos em seguir pela a calçada. A rua era larga.
Andando por detrás das barracas podíamos apreciar melhor as casas e a vizinhança.
Logo a frente havia um grupo de meninas, que de longe pareciam simpáticas.
Ao se aproximar das garotas tive uma sensação desconhecida e estranha como se algo fosse acontecer.
Meus olhos curiosos procuravam não sábio o que, mas vasculhava detalhes ou alguma de interesse.
De repente meu radar interno detectava uma figura familiar, ao avistar um par de olhos azuis...
Comecei a perceber em meu corpo sinais de comichões, coceiras e tremedeiras nas pernas.
Do outro lado, também acusava reconhecimento de alguma particularidade.
O grupo em volta da menina demonstrava que alguma coisa fora do normal acontecia.
Ao meu lado, meu primo percebeu nossa troca de olhares...

Tentando dominar sentimentos e sensações físicas fui ao seu encontro.
Trocamos um beijo no rosto e por algum tempo ficamos estáticos em frente a sua casa.
Sua mãe regava o jardim e percebeu nossa aproximação e constrangimento, mas acabou por me reconhecer abrindo um sorriso.
Tudo aquilo me deixou travado
Conversamos por alguns momentos ainda constrangidos, acabei anotando o numero de sua casa para trocarmos correspondência.

Aquele reencontro deve ter permanecido por algum tempo na cabeça dos dois...

Talvez pela distância e a falta de maior contato nos esquecemos um do outro...

Passados mais de 20 anos, era sócio de uma empresa com sede na avenida nova Cantareira, reencontro aquela loirinha, agora mulher feita e bonita.
Como era de se esperar uma nuvem de energia adormecida, de repente é despertada.  

Fomos tomar um café para colocarmos a conversa em dia.
Havia se formado em psicologia. Tinha uma filha de oito anos e estava separada.
Cada um falou um pouco de suas vidas e também relembrando parte de nossos passados comuns.
Conversamos e rimos um bocado.

Ao final nos despedimos com um beijo no rosto, talvez nosso último encontro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário