quarta-feira, 1 de maio de 2013

Terminal de trem cptm 49

Todo dia, naquela maldita hora
que martírio, que agonia
retornar, ir embora...
Desce a noite,
trazendo garoa e neblina

É gente que chega, é gente que vai...
Mas que importa tudo isso?
Importa ficar, permanecer e eternizar...

As horas não param, mas deveriam.
Relembrar momentos...
Bem bom viver,
E não ter receios,
Seus seios são belos

Quem sabe "lê" nas entrelinhas...
porém nada diz, nada fala mas observa
Talvez nas estrelinhas... talvez esteja escrito nas estrelas

O trem parte... levando
e devolvendo pessoas e destinos
Esse trem também parte muitos corações,
sem perguntar, sem consentimento
O trem separa pessoas
e nunca para, mesmo que se peça

Trem que leva gente pra longe
Traga esse povo de volta...
Há corações a espera.

e-mail do autor: luigymarks@uol.com.br

domingo, 28 de abril de 2013

Trezentos e sessenta e cinco dias -25

1969 -
Trezentos e sessenta e cinco dias depois, da virada de 1968, lá estávamos novamente subindo a Augusta, desta vez na virada do ano para 1969.


Desta vez em sentido contrário da passagem anterior, nossos passos começavam no inicio da rua ao lado do antigo prédio do Estadão.

Devidamente paramentado com uma mochila e barraca, partímos da Rua Xavier de Toledo em direção a Augusta como destino ao Parque do Ibirapuera.



As Rádios Difusora e Excelcior haviam divulgado uma noticia sobre a realização de um festival de música, no estilo de Woodstok que levaria o nome de “Lesma Azul e que contaria com a presença dos Mutantes, Tom Zé e diversas outras bandas.
Devidamente acionados, todos os bichos grilos, estavam a postos, esperando passar três dias acampados no “Ibira” curtindo um Som e fazendo make Love not war. Todo mundo numa Nice.Uma imensidão de cabeludos se dirigia para São Paulo para curtir aquilo que poderia ser um o maior festival depois de Woodstok e talvez o fato mais marcante que na área musical no Brasil.
A expectativa era enorme.
Noticias aqui e ali ajudavam a movimentar a ansiedade.



Com dois dias de antecedência começamos a nos preparar para concretizar nossa presença no Festival Lesma Azul.
A abertura seria numa sexta feira pela manha, finalizando no domingo a noite.

Devidamente arrumado, saímos na quinta feria a noite, às 20:00 na frente do Mappin. Uma procissão de jovens cabeludos com barracas e mochilas seguia animados quase despercebidos.



Na Augusta passamos pelo Estadão, com o transito já em baixa.
Íamos todos a pé cada um com seus pertences.
Seguíamos em procissão, mas cada um na sua sem que tivéssemos conhecimento de quem eram os que seguiam a frente ou os que estavam na retaguarda.
Nesse dia estava com um outro amigo, Gil, que tocava nos Snacks, banda do bairro Vila Nova Conceição.
O Gil e eu seguíamos animados com a perspectiva de participarmos de evento de tal magnitude e nosso objetivo era curtir um som e a vida. Alienação típica que jogavam pra cima dos chamados “hippies”
Logo cruzamos à Praça Roosevelt
Neste exato momento passa um carro com alguém que grita:
Viva a liberdade e abaixo a ditadura.
Outros carros seguiram também gritando.
As pessoas na rua olharam a manifestação sem interesse.



Era o ano de 1968.
Estávamos num dos anos mais difíceis com relação a política da nação brasileira. E um grito nesse estilo, soava como algo bem provocativo.
Seguimos em frente.

Ao cruzarmos a rua Caio Prado, surge a noticia que o festival havia sido cancelado pela policia e foi se espalhando boca a boca.
Aquilo era um balde de água fria.







Novas noticias diziam que o Exército havia cancelado tudo, para evitar qualquer tipo de aglomeração e também para evitar pessoas que fizessem apologia a maconha e coisas do tipo.



Pronto. Toda nossa expectativa de curtição tinha ido para o espaço.
A frustração era total. E isso deixou a todos sem rumo.
Conversas aqui e ali e nada.



Um grupo resolveu que continuaria em marcha rumo ao “ibira’, pro que desse e viesse. Um outro grupo surgiu com a possibilidade de seguirmos rumo a Iporanga, paraíso hippie próximo a Bertioga.
Achei essa opção mais atraente.



Fizemos meia volta para se juntar ao grupo em torno de umas 30 pessoas que pretendia seguir para a Iporanga de trem.
Ao cruzamos novamente a Rua Caio Prado, notamos a passagem de quatro peruas de C1416 da PM em alta velocidade com sirenes ligadas.
A maioria tentava entender o que estava acontecendo.
Em seguida duas peruas retornavam em sentido contrário fechando o cruzamento da caio prado e outras duas, enfim todo o quarteirão.
Ficamos todos sem entender o que acontecia.
Eles haviam fechado o quarteirão todo para prender alguém...



Nosso grupo aguardava curioso para ver quem seria o preso.
De repente os guardas avançam pra cima de nosso grupo.
Foi um tal de corre-corre.
Com a barraca pesada, não dava pra correr, acabei jogando a minha no quintal de uma casa e assim poder correr.
Que nada.
Fomos todos cercados e sendo forçados a entrar na chiqueirinho.
Sem saber direito o por quê éramos jogados na traseira da C1416 que saiam em alta velocidade pelas ruas com sirene ligadas.



Eram colocadas 10 pessoas em cada chiqueirinho das tais peruas. No total 20 pessoas foram presas.

Fomos levados ao prédio da policia sem saber onde estávamos.



Fomos colocados todos na mesma sala sentados ao chão. Ali passamos a noite.
A sala ficava no primeiro andar onde inicialmente éramos interrogados sobre o nível da escolaridade de cada um. Quem estava no ginásio e colegial iam para uma sala.
Os que cursavam faculdade tinha outro destino.
Ao todo eram 18 estudantes ginasiais e apenas dois universitários. Estes últimos foram levados para as celas.
Aos demais um discurso sobre disciplinas e civismo.
Em momento algum fomos informados sobre o motivo de nossa prisão e por que estávamos ali.



A cada meia hora éramos chamados por ordem alfabética e liberados.
Ao ser chamado fui informado que seria colocado em um ônibus de volta para casa do bairro onde morava com recomendação para descer somente no ponto final.



Fui levado para a rua aos empurrões.
Ao sair percebi que estava nas proximidades da antiga Estação Rodoviária Julio Prestes.
Ao Olhar para traz percebi que estivera preso no prédio do DEOPS aquele de tijolinho aparente.



Embarcado a força no ônibus devidamente abraçado a minha mochila, cheguei em casa em menos de uma hora.



Três horas estava de volta a Rua Augusta para tentar reaver minha barraca que havia jogado em uma casa.
Infelizmente jamais encontrei.
Mas nem por isso deixei de passar por ali.




Esta foi a passagem de ano mais triste que me lembro.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quase caiu na minha cabeça 48

Acordei com uma revoada infernal de aeronaves passando por cima de casa.
Esse tipo de coisa faz parte da rotina de quem mora entre os bairros de Água branca, perdizes e lapa, aqui na zona oeste.
Moro na travessa da Rua Carlos Vicary, em uma vila que sempre foi sossegada. 
Mas hoje foi um dia diferente.
Primeiro foi um estrondo. Minutos depois dezenas de sirenes de carros de bombeiros tiraram meu sono de vez. 


Uma aeronave aqui perto de casa.
Quando digo perto de casa, quero dizer que foi no quarteirão ao lado

Veio um estrondo que estremeceu o quarteirão todo.
Quando soube que havia caído um helicóptero, pensei podia ter caído aqui.

Há bastante tempo percebemos que o nosso bairro virou rota de aeronaves tipo Helicópteros e entroncamento de linhas. Aeronaves vindas de todas as direções fazem suas mudanças de rotas de norte e sul, leste oeste bem em cima do cruzamento Av. Francisco Matarazzo, Avenida Pompéia, Rua Carlos Vicary e Rua Clélia.
“Até aí morreu o Neves”.

O problema é que “certos aparelhos” voam abaixo do permitido fazendo rasantes no topo dos prédios vizinhos.
Não posso imaginar o barulho que ecoa aos condôminos dos prédios, mas cá embaixo é ensurdecedor.

Assim como todas as categorias profissionais há os que obedecem as regras de trânsito e os que querem levar vantagem, como os motoqueiros que fazem suas próprias regras.
Parte dos pilotos dessas aeronaves também fazem suas regras para cortar caminho e andam em altitude abaixo do permitido.

Quando há jogos de futebol ou algum movimento na cidade fora do comum tais como roubos, enchentes e etc.
Aeronaves das Rádios AM e FM e das Tvs ficam por mais de 30 minutos flutuando no ar com um barulho ensurdecedor como se fossem resolver alguma coisa. Pelo contrário, ajudam a tumultuar.
Só quem mora no local é que padece.
Pessoas estão se movimentando para fazer abaixo-assinados para que sejam tomadas providências a respeito.
Grupos de pessoas estão gravando vídeos do solo, do topo dos edifícios e da garagem do Shopping Bourbon para juntar aos autos e iniciar uma campanha que possa colocar os infratores nos eixos.

Nossa corrida para obter sucesso ainda é pequena.
Não era nossa intenção esperar que um acidente nos colocasse em alerta.
Mas foi justamente a queda de um aparelho no dia de ontem que desencadeou  a nossa reclamação.
Por milagre o aparelho não caiu em cima de uma casa. E por pouco não caiu em minha casa.   
Ufá!
Luigy

terça-feira, 1 de maio de 2012

Domingo, dia sagrado para ir ao cinema - 47



Passei uma “boa’’ parte de minha juventude nas salas de cinemas do meu bairro a Vila Nova Conceição.

Havia duas grandes razões para isso.
Uma era re-experimentar as sensações vividas como aventura em minha primeira sessão de cinema que havia sido em uma praça pública.
Cada filme nos levava a uma viagem diferente onde não havai como prever ao certo qual seria o destino.
Cada diretor imprime a cada obra, os anseios, dúvidas, certezas e aspirações que lhe marcaram em determinado momento de suas vidas.

Uma outra razão à aquela época eram as duas horas no escurinho ao lado de uma garota.
Uma coisa era ser adulto e ter intimidades com outra pessoa adulta.

Mas aos jovens pré-adolescentes estar ao lado, junto de uma garota durante duas horas cheios de espectativas eram prazeres indiscritíveis.

Experimentar o prazer e sensações permitidas e ao mesmo tempo difíceis de concretizar, pois fazia parte de um rito de passagem para vida adulta.

Sentar-se ao lado de uma menina numa sala de cinema, acreditando-se que ambos tinham desejos parecidos, era algo que nos fazia perder a respiração e tremer nas bases.

Querer conhecer uma garota dentro do cinema, entabular conversa e sair dali levando pra casa a singela recordação de um beijo, era algo além da imaginação.
Mas isso acontecia, as vezes.

Como era escuro, mal dava pra perceber a reação de qualquer uma das partes.

Os acontecimentos seguiam por fases, que depois de um ‘conversê” bem aplicado que levaria a permissão de pegar nas mãos da graciosa menina depois de apreciar sua pulseira. Após algum tempo as mãos ficavam úmidas, suadas de tanto se apertar. Era hora então de dar uma folga para as mãos e passar para fase seguinte: colocar as mãos sobre o ombro da linda garota.

Com esse consentimento, era questão de minutos que as cabeças quisessem se aproximar.
Sutilmente a garota de olhos brilhantes repousava suas madeixas no ombro do daquele garoto que ia medindo seus passos.
Ah! Chegar até ali era um misto de estratégias, avanços, retrocessos e sucesso. Tudo muito bem dosado.

Era hora então de relaxar um pouco e aproveitar a maravilhosa sensação de ter uma futura  mulher nos seus braços cabeça a cabeça. Sentir o seu perfurme e poder recordar mais tarde.

Durante algum tempo ele ficava suspirando internamente curtindo e admirando chegar até onde chegou.
Quase no meio do filme, que de preferência deveria ter alguma coisa de romântico, era a hora de oferecer um drops ou algum doce ou chocolate.
O drops servia de experimento para que pudessem se encarar por algum momento e ouvir aquela voz meiga dizendo sim, eu quero (drops). A bala ou drops servia também para suavizar o hálito quente e esperançoso de ambos.

Assim que percebia que o drops da garota poderia estar acabando, estrategicamente o menino levava um drops a sua boca já com a pergunta engatilhada:
Vc quer mais um drops? Seguramente ela responderia que sim.

Ele gentilmente oferecia então o drops preso em seus lábios.

Geralmente atenta ao filme, ela virava levemente a cabeça com os olhos fixos na tela oferecendo seus lábios rosados esperando o drops.
Ele mais que ligeiro oferece carinhosamente o quitute com todo seu amor.

A mistura de espanto, surpresa e desejo terminavam em um beijo molhado entre ambos.
Era um beijo demorado, talvez pela incerteza ou não de acontecer novamente...

Os colegas da turma  também no cinema comemoravam como se fosse um gol na copa do mundo.

Talvez nos pensamentos da graciosa menina, não ver a hora de contar pra suas amigas, aquele beijo. E na cabeça dele acontecia uma viagem de ida e volta como se fosse uma montanha russa.

Era bem provável que se mantivessem com as cabecinhas coladas até o encerramento filme, pois o beijo representava o céu é o limite.

Eram justamente esses acontecimentos que nos levava a dizer que:
Domingo, era dia de sagrado de ir ao cinema.
E cinema era um lugar onde tudo poderia acontecer.          

              
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Na década de 60 morava no bairro de Vila Nova Conceição, na Avenida Santo Amaro, onde éramos bem servidos no quesito de cinemas.

Em seu trecho inicial haviam cinco salas de exibições: 
O Cine Graúna-1960 (depois Chaplin), Cine Guarujá (Excelcior), Cine Bruni Vila Nova -1966 ( Cinelândia II), Cine Vila Rica-1963 (Del Rey) e Cine Radar.
E bem perto dali, na rua Joaquim Floriano havia o cine Iguatemi.
No Brooklin havia ainda o Cine Meninópolis.    
Entrando na adolescência, não perdia uma só matinê.
Com tal variedade de salas, as vezes dava até pra escolher.

Nessa época, os meninos andavam à caça nas matines especificamente para arrumar alguma namorada. Tentar fazia parte do jogo. Os resultados nem sempre satisfatórios.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Andanças da familia Veslievski -46


Meu avo paterno Etso Naunmov Veslievski (Cristo Naum Marques)
nasceu na Bulgária, em uma região que hoje pertence a Macedônia


Histórico:
Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, é assassinado durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina)
Essa manchete foi o estopim para o conflito que desencadeou a I Guerra Mundial em 1914/1918.
Instala-se o caos na Europa e no mundo civilizado

Após reconquistar sua independência como principado da Bulgária em 1878, o povo bulgaro ainda teve que lutar para se tornar pais livre novamente fato que ocorreu em 1908.

Foi no meio desse cenário que em 21 de abril de 1890 nascia na Bulgária, quase as margens do Rio Danúbio, Etso Kristo Naunmov Veslievki (y).
Na década de 10, guerras surgiam em todos os cantos da Europa.
A família de Etso Kristo habitava pequena vila próximo ao Danúbio e com a fronteira com a Macedônia. Essa vila  de... com tantas guerras e divisões hoje pertence a atual Macedônia.

Guerra por novas fronteiras acabavam com todo tipo de plantações, que eram o sustento das familias e proviam sua subsistência.
Os campos deixaram de produzir alimento para as famílias. 

Quase todos acabavam abandonando as terras de origem para buscar segurança e comida. Famílias inteiras deixavam para traz tudo que pertencera as suas famílias por diversas gerações.
Os mais velhos resistiam abandonar as raízes.

Porem os jovens são sempre impelidos por desejos nem sempre muito claros, que buscavam novos horizontes e novas chances de vida para sair do sofrimento e da guerra.

Assim como a maioria dos jovens da época, fizeram os quatro irmãos Etso Kristo (Edson), Kimi (Joaquim), Pere (Pedro) e Elo (Hilo), todos da família Naunmov Veslieski (i), buscando alternativa de vida nova.

Saíram da Bulgária em busca de um sonho, que era fazer a America, e quem sabe um dia voltar.
A saída dos quatros irmãos se deu após o ultimo natal (1914) em família com a benção dos pais Naunmov e Anna.

A viagem
No dia seguinte puseram-se em marcha.
Da Bulgária passaram pela Grécia pela facilidade do idioma.
Dali conseguiram um chegar a Itália de Barco.
Depois atravessaram a França até chegar à Espanha onde pegariam um navio para Nova York.

Todo esse percurso fora feito caminhando durante o dia e descansando a noite em plena guerra.
Foram cinco meses de caminhada passando por todo tipo provação durante o rigoroso inverno europeu com objetivo de guardar dinheiro para a grande viagem de navio e atravessar o Atlântico para fugir de vez da guerra na Europa.
Aliviados por terem cumprido parte do plano, chegaram a Barcelona, na Espanha, quase mortos de cansaço.
                   
A travessia se daria pelo Vapor Transatlântico Príncipe das Astúrias, pois a Espanha se mantivera  neutra na 1ª. Guerra Mundial.
Saíram de Barcelona no dia 17 de junho de 1915 com espectativa de 30 dias de viagem.
  
Durante a travessia surgiram as primeiras seqüelas da longa caminhada.
Etso e Elo pegaram pneumonia após algum tempo nos porões do navio. Elo acabou se curando com mais rapidez. Com Etso foi um pouco mais complicado.

A chegada
Etso acaba sendo barrado pela emigração por ter contraído a Pneumococix.

Seus três irmãos, Elo, Kimi e Pere conseguem o visto de entrada.
E ficam torcendo para que Etso também consegua.
Este fica mantido 40 dias em quarentena. Para então se decidir pelo o impedimento de sua entrada.
Seus irmãos se fixaram em Ohio e acabam constituindo famílias.
Ao que sabe nunca mais voltaram ao pais de origem.

A separação.
Acabaram colocando-o no próximo navio que faria escala final em Buenos Aires.
Etso acabou indo para argentina.
Após cuidados a bordo durante a viagem, acabou desembarcando em Montivideo.

Receoso de contrair doença novamente desejava buscar oportunidades mais ao norte, já que no Uruguai o frio era bem intenso no inverno.
Acabou chegando a fronteira do Rio Grande Do Sul.

Ali soube que estava em preparação uma grande caravana de colonos em carroções rumo ao Mato Grosso.

Juntou-se a caravana e então atravessaram a Argentina com destino ao M.T.

Ali conhece um jovem filha de pais brasileiros Espindola Vargas que tinham uma filha nascida em campos de passagem pela argentina, em Rosário.

Uma nova vida
Acabam se casando em janeiro de 1918 e se estabelecem em Campo Grande.
Um anos depois nasce o primeiro filho dos 12 que tiveram, mas somente oito viveram: Sebastião, Ana, Celina, Noêmia, Celeste, Arnaldo, Nilton e Sinésio.

Mais tarde adota um nome mais brasileiro Cristo Naum Marques e todos os seus filhos levaram esse sobrenome. 

Aqui trabalhou na Noroeste do Brasil na implantação de ferrovias. Foi trabalhando ai que fez uma grande amizade com a pessoa de origem portuguesa que lhe sugeriu o sobrenome Marques. 

Mais adiante se estabeleceu como proprietário de um grande armazém de secos e molhados na periferia de Campo Grande.
Atuava como tradutor aos emigrantes eslavos e russos que chegavam a cidade.

Depois de longo tempo sem contato, Etso ou Cristo, ainda tentava buscar o rastro de seus irmãos. Não se sabe ao certo se foram trocado algumas cartas.

Como muito tempo passado não ficou muito claro o que ocorreu nas relações entre eles depois da separação ocorrida em 1915.

Apesar de falar várias línguas em virtude dos países que passou, pouco interesse teve em passar aos seus filhos a língua mãe.
Porém passava muita informação aos filhos mais velhos sobre as peripécias e os feitos de Alexandre, o Grande. 

Ele acabou morrendo em 1945 com antigos resquícios da antiga pneumonia.

Em 1995, seu filho mais velho quis lhe prestar uma homenagem, ao dar o nome de seu pai a uma rua no bairro onde morava.
A rua chama-se Cristo Naum Marques com o cep 04813-080, Santo Amaro -

Buscando contato
Nos anos 50, um parente nosso, esteve nos EUA e foi a procura dos tios Vesliveski em Buffalo.
Parece que um dos irmãos esteve no Brasil nos anos 40 ou 50 a procura do irmão, colocando anúncios em jornais e rádios.

Como morava longe dos centros são Paulo e rio, os contatos não se concretizaram.
Na década de 50, um parente nosso este nos EUA e foi a procura dos tios em buffalo levando um cartão com endereço do Kimi. Mas não conseguiu contato   

Nos anos 60, uma prima de origem eslava, Valquiri, que morava em Corumbá, veio morar em casa de um dos filhos de Etso, Sebastião (meu pai) e ficou por um ano em nossa casa no aguardo do visto de entrada. Ela tinha parentes lá.  

Já morando no Estados Unidos nos anos 90, ele teve contato com pessoas de origem eslavas que diziam ter parentes no Brasil.
Depois de algumas trocas de informações acabou se confirmando que essas pessoas eram filhos e netos dos irmãos de Etso: Kime, Pero e Elo.
Fizemos contato com Dorothy e Dona filhas de Kimi. E com Ratko, filho de Pere.
Ainda sem contato soubemos de Sonko que mora no Canada, que era filho de Elo.                      
Para complementar a arvore genealógica conseguimos apurar todos dos descendentes deles.

Inúmeras cartas foram trocadas no inicio dos ano 2.000 que moravam em cincinati e springfils em Ohio

Durante algum tempo trocamos cartas e emails com as filhas de Dorothy e Dona. Mas com mudanças de emails perdemos o contato.
Por elas soubemos do primo Ratko.
E com ele trocamos cartas.
Certa vez ele nos ligou no natal e por vários minutos travamos uma pequena batalha português x inglês. Houve mais choro que palavras.
Por ele soubemos da existência de um primo Nelko Nelkovski que mora em Skopje, na Macedônia. Temos contato via facebook, mas a língua ainda nos impede de uma maior aproximação.     

Esta em nossos planos uma viagem a Skopje para conhecê-lo.
Antes disso vamos criar coragem de estudar uma ou duas línguas para poder encarar e facilita esses contatos. 
E quem sabe também uma viagem a Worth, Illinois para matar a saudade com o primo Ratko, já que temos a mesma idade.
Conseguimos encontrar no facebook alguém com o nome Sasha Veslievski. Aguardamos o resultado.

domingo, 29 de abril de 2012

Matando aula -45


Inventaram que eu tinha que estudar num colégio de padres.
Meus pais me tiraram da escola pública  para estudar em escola particular.
Morava na avenida Santo Amaro e me matricularam no Colégio Santo Alberto na rua Martiniano de Carvalho, no bairro da Bela Vista – no Bixiga
Para ir a escola precisava tomar o ônibus Vila Helena canal 7.

Nunca fui de arrumar confusões e brigas na infância.
Dois garotos da escola, um palestrino e o outro Pó de arroz, discutiam sobre futebol e acabaram brigaram no ponto de ônibus rolando no chão entre tapas e murros. Não se sabe de onde o Secretario da escola apareceu e anotou o nome de todos a espera do bus
Acabei sendo envolvido em uma briga no ponto de ônibus sem ter participado de nada.
Não Havaí ninguém de minha turma e nem conhecia os colegas alí presentei, mas meu nome acabou sendo colocado na lista
No dia seguinte, após o final da aula, ao receber minha caderneta de presença, notei que havia uma observação> O aluno participou de brigas na área externa da escola no ponto de ônibus.
Como nunca tinha feito isso não dei muita bola pra isso.
No dia seguinte, fui barrado ao entrar por não ter trazido a assinatura de meu pai na caderneta. Acabei levando outra observação por não ter assinado e por ter perdido a prova de Frances e fui mandado para casa. Acabei fazendo hora pelo caminho antes de voltar pra casa (era 6ª feira).
Na 2ª feira, a página era virada. Acreditei que ninguém notaria que não havia sido  assinado.
Acabei levando mais duas observações, uma dizendo que havia sido negligente e outra por faltar a missa sem carimbar.
Ao olhar minha caderneta vi que tinha colecionado quatro observações que acabou  “manchando a minha caderneta.

O que fazer? apagar? Jogar fora? Falsificar?
Um pavor tomou conta de mim.
Nem dormi direito.

No dia seguinte sai de casa com lanche e fui pra escola, mas não tive coragem de entrar. Pois sabia que iria acabar levando outra.
Acabei entrando na igreja ao lado da escola e fui para o local onde ficava os sinos.

Subindo as escadas em direção ao campanário encontrei um monte de revistas em quadrinhos que contavam a vida dos Santos. Passei ali grande parte da manhã toda lendo as revistas e comendo meu lanche.
Esperando o final das aulas, fui pra casa.

No outro dia levei mais dinheiro e resolvi mudar o esquema. Acabei indo pro Ibiripuera.
Arrumei um cantinho lá perto dos lagos e com a mochila cheia de gibis passei a manha toda lendo, descansando e comendo.
Ao voltar pra casa, dou de cara com o secretário da escola conversando com meu pai.
Entrei de fininho, já esperando a desgraça acontecer.

Pouco tempo depois entra meu pai já de cinta nas mãos e me pegou de jeito.
Levei a maior surra de minha vida.

Meu pai me jogou na cama e batia sem dó.
As vezes se cansava e parava pra descansar e depois recomeçava.
Essa foi a primeira e ultima surra que tomei,
Aprendi uma grande lição.        

sexta-feira, 2 de março de 2012

Maria Nilde Mascelllani - 44

Lançamento do Livro Tese de Maria Nilde no Cine Bijou em 3/10/2010 

A jovem Maria Nilde, tinha um sonho, um grande sonho de amor,
E esse sonho de amor tinha um nome, era a Educação.

Lá foi ela em 1957, em busca de seus sonhos na Cidade de Socorro, onde aconteceram as Classes Experimentais no Instituto Narciso Pierroni.

Ali foi experimentado com outros professores e técnicos, o embrião dos vocacionais, uma renovação em educação.

Deixando a vida pessoal de lado,
abraçou de corpo e alma, os vocacionais.
Como nada acontece por acaso, foi sua coordenadora.

Ao lado de professores e técnicos de grande expressão,
montou uma grande equipe no SEV e realizou uma renovação em pedagogia.

Ali nascia uma grande experiência, que poderia ter mudado o rumo da atual educação brasileira.
Essa experiência tinha como objetivo, servir de base para a implantação da rede de estadual na educação paulista.
Criado em 1961, o Serviço de Ensino Vocacional, foi implantada em 6 unidades com êxito total, tanto é verdade que em 1965, outras 10 cidades aguardavam sua instalação, e mais de 150 municípios estavam na fila.   

Mas os tempos eram outros.
Uma escola que ensinava alunos a pensar, discutir e criticar, era um absurdo para alguns setores, inclusive do meio acadêmico.
Os tempos eram outros.
Não eram cor de rosa, eram cor verde oliva.

E por decisão de uma minoria, a maior experiência em escola pública, deixou de existir e foram fechadas todas ao mesmo tempo em 12 de dezembro de 1969.

A partir daí, foi perseguida, presa e processada.
No cativeiro usava seu tempo para escrever cartas, poesias e crônicas.

Tentou criar em 1986, a Fundação Memorial Vocacional, a semente foi lançada e ficou germinando.

Em 1990, foi Secretaria municipal de Educação da cidade de Rio Claro

Criou em 94, o Projeto Integrar, com base na experiência dos vocacionais, uma pedagogia para capacitação de trabalhadores desempregados.

Em dezembro de 1999, defendeu sua tese na USP.
Dez dias depois, ela nos deixou.

O sonho não acabou, seu sonho não morreu.
Ele continua vivo dentro de nossas mentes e corações.
Hoje diversos parceiros se juntam para mostrar que o sonho esta em andamento

Afinal em 2005, um dos sonhos se realizou e foi criada a GVive - Associação dos  ex alunos e amigos, que quer dizer Ginásio Vocacional vive em nossas mentes e corações.

Hoje nesta parceiros das idéias de Maria Nilde se juntaram para lançarmos seu livro tese defendido em 1999.

Luigy
03/10/2010

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Minha primeira vez...com a namorada no cinema -43

Cedo na vida fui impactado pela sétima arte.
Aos seis anos de idade, descobri o cinema e ele me descobriu
Minha primeira sessão de cinema aconteceu numa exibição de rua como foi relatado em uma história o anterior publicado no site São Paulo Minha Cidade com o nome de cine paradiso minha primeira sessão de cinema.
Tal experiência me deixou encantado e deu asas a minha imaginação.

Ao passar da infância para adolescência ganhava autonomia para fazer minhas próprias escolhas de onde ir, assistir o quê, e com quem? 

Além das festinhas improvisadas de garagens e dos bailes de aniversários situações onde se podia dançar e se aproximar de uma garota, eram nas mantinês o local predileto pelos meninos para aprendizado e aperfeicomento dos beijos.
Depois da ansiedade e insegurança do primeiro beijo, os demais aconteciam se resistência.
A duração de duas horas de uma sessão de cinemahoras de duração no escuro era tudo que os jovens queriam para esse aprendizado, de preferência para quem já tinha sua 'sweet girl".
Mas nem sempre as coisas aconteciam como se esperava.

Nesse momento da vida estudava no vocacional, uma experiência maravilhosa em escola pública em período integral nos anos 60 que aconteceram no estado de São Paulo. Fui da 2ª turma de 120 alunos que passaram no exame de seleção. Entrei no ano de 1963.

Já no primeiro dia era feita uma gincana de acolhimento e integração de novos e velhos alunos e tambem com os professores.
Aconteciam brincadeiras com a intenção de colocar os recém chegados bem a vontade

O trabalho em equipe ocupava praticamente todos os momentos de estudos e salas de aulas no curriculo da escola. Quando havia entrosamento além da conta, as equipes, almoçavam e brincavam juntas, estendendo uma amizade além dos muros da escola.
Até então, meninas e meninos estudavam em escolas separadas ou classes separadas.
Para a maioria, o fato de estudamos juntos, fazia parte de um novo aprendizado.
Para os meninos, um cuidado especial em relação a determinadas brincadeiras e para meninas, se desgrudarem umas das outras.
Além das atividades em classe, saiamos em Estudo do Meio fora da escola dentro do período de aula fazendo pesquisa de campo, visitas ou entrevistas de acordo com determinados trabalhos.
A convivência diária dos dois sexos abria uma nova visão de vida para todos. Além de estudos, almoços, também aprendíamos danças regionais e saiamos em viagens em conjunto.

Viver lado a lado com garotas o dia inteiro era ao mesmo tempo uma delicia e um desafio. Dificil era prestar a atenção nas aulas.

Namoros e namoricos eram normais dentro da escola sem grandes preocupações dos professores, a não ser que determinado aluno deixasse de ir bem em suas avaliações. Quanto ao resto, corria tudo em paz.

De repente éramos flechados por algum cupido.  

Foi ali nessa escola que aconteceram minhas primeiras e mais significativas experiências afetivas de jovem.

Minha equipe era formada por 3 meninos e 2 meninas. As duas eram muito bonitas e cada qual tinha o seu charme. Uma delas tinha olhos azuis e a outra tinhas olhos cor de mel.
Inicialmente me interessei pelas duas, talvez pela questão da beleza. A de olhos azuis era falante e provocativa. A outra tinha um olhar meigo e um sorriso cativante.

De repente surge um interesse mutuo. Em conversas no corredor da escola alguem soltou que havua uma garota interessada em mim. Fiz minhas sondagens e descobri que era essa mesma pessoa que estava interessado.
Apesar de nossa convivência diaria de trabalho e estudos, falar diretamente de um outro assunto que você estava envolvido não era fácil. Sondei uma amiga dela para saber das possibilidades de uma investida erro.
Essa amiga comum disse que eu teria passe livre.
Um encontro para uma conversa séria foi marcado para depois da hora do almoço bem longe dos olhares da maioria.
Na hora certa e momento certo nos encontramos. Tentando controlar minha fala e acabando por enrolar a língua a pedi em namoro. E ela prontamente aceitou.
E ai?
Eu não sabia o que fazer.
Acabei agradecendo o sim e dei um beijo no rosto. Acho que ambos ficamos vermelhos.
Com o assunto resolvido, entendemos que deveríamos voltar ao convívio de todos.
Ao voltarmos percebemos que éramos observados por uma grande platéia curiosa de colegas de nossa classe. Alguns assobiavam e outros gritavam como se tivesse acontecido um gol.
Profundamente envergonhados, retornamos cada um foi pro seu canto.

A partir desse dia passamos a nos sentra um ao lado do outro, nos trabalhos em equipe e no almoço.
Tambem nos corredores e na hora da saida para pegar o ônibus para casa, ficávamos juntos na espectativa de ficar de mãos dadas.

Acabamos ficando num grude. Em algumas aulas era possível ficar de mãos dadas invertendo mão direita dela com a esquerda minha, debaixo da carteira.
Ambos fomos fisgados pelo cúpido.


Durante o dia nos movimentávamos pela escola inteira, pois cada disciplina tinha sua sala especifica. Matavámos nossa vontade de tanto andar de mãos dadas. Mas beijo que é bom, tava difícil, pois não queríamos dar bandeira.
Como quem procura acha, acabamos encontrando um momento perto da biblioteca 
ao subir para o andar superior percebemos que não havia ninguém no nosso campo de visão.









Entendi que era o momento certo e num abraço apertado trocamos um longo beijo teatral.
Não sei quanto tempo durou. Perdemos a noção.
Pra disfarçar eu subi e ela desceu para nos encontrarmos no pátio.

Minha cabeça rodava sem parar. Era emoção demais.
Acabei indo ao banheiro jogar água no rosto pois achei que minha temperatura tinha subido e meu rosto vermelho acusava isso.

Para não sermos pegos no flagra combinamos em ir ao cinema na primeira oportunidade para matar nossa vontade.
Como ela morava na Brigadeiro Luis Antonio combinamos um cinema perto da casa dela.

Domingo, 15 minutos antes de começar a matinê (14:00) lá estava eu.
De longe percebi sua silueta. Percebi que a seu lado estava uma colega do gv que eu conhecia.
Até ai tudo bem.

Ao me aproximar, mais uma menina se apresenta, como acompanhante, era sua irmã mais velha.

Fiz o que pude pra disfarçar, não sei se consegui?.

Acabei pagando a minha entrada e a dela.
Quando surgiu a oportunidade ela tentou me explicar que ao sair de casa, sua mãe fez pé firme que a irmã mais velha a acompanhasse ao cinema.
O combinado era levar uma amiga para ter passe livre com sua mãe e ficar de vela.
Bem na época eu tinha 13 e ela 12 anos.

Como o cinema era perto da casa dela, não me preocupei em saber o nome do filme.
Entramos e sentamos juntos. Mas ao lado dela sentou-se a irmã.
Percebi que meus planos estavam perdidos.
Tentei ficar de mãos dadas, mas a irmã ficava de antena ligada.
Resolvemos usar o mesmo artifício usado na escola usando as mãos invertidas. E assim ficamos o filme todo.
Sem ter outra coisa para fazer, acabei prestando atenção ao filme.
O filme era um espécie de documentário sobre um cachorro lobo Nik o valente indomável.
Tive certeza que não haveria qualquer tipo de beijo incentivados no filme.

Saímos do cinema com a ponta dos dedos doendo de tanto apertamos um ao outro.
Nos despedimos cordialmente, ambos frustrados.

Toda minha expectativa de usar os meus truques de beijos tinham ido por água baixo.
Voltei pra casa arrasado.

Namoramos durante um ano. Desmanchamos e reatamos sete vezes.
Mas nunca conseguimos ir novamente ao cinema.

Luigy 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

“Negreiro” Viação Jurema -42


Ao tomar conhecimento dos relatos “O ônibus negreiro” da Guarapiranga do colega Carlos
Fatorelli, novas lembranças acabaram se soltando de dentro da minha caixa de pandora.

Minha família, nada tinha de cigana, mas periodicamente estavam de mudança de uma região para outra e de um bairro para outro.
Aos 22 anos estava desta vez morando próximo ao largo de socorro no inicio da  av. Guarapiranga. Mas trabalhava no centro da cidade, na rua 24 de maio.
Acordava bem cedo na tentativa de pegar vazio o ônibus da Viação Bola Branca ou Jurema para ir sentado até o centro aproveitando assim para dar uns bons cochilos. Saía de casa às 6 horas pois entrava no banco às 8:00. Eram 40 minutos diários até o centro. O trajeto do ônibus seguia  em direção ao Largo Treze, continuando pela Av. Adolfo Pinheiro e atravessava de cabo a rabo a Avenida Santo Amaro parando de ponto em ponto para recolher pessoas. Depois seguia para a Nove de Julho percorrendo toda a sua extensão para no final descarregar o povão na Praça das Bandeiras. No banco o expediente ia até as 17 horas.

Para aliviar a tensão no trabalho, a diversão na hora do almoço era ficar na porta da Galeria do Rock apreciando o movimento e com os bolsos cheios de elásticos para atirar na poupança de cada popozuda que passava. Quase todo dia tinha encrenca...

Ao final do expediente nos reuníamos para uma ou duas cervejas no sujinho na galeria que fazia ligação com a rua Barão de Itapetininga.

Logo depois seguia a pé para o Cursinho Med na Rua Augusta.

Minha ultima aula acabava às 23:30. Saia correndo para pegar o “negreiro” que passava na avenida 9 de julho.
A última viatura da “Bola Branca” saía às 23:45 da Praça das Bandeiras.
E o derradeiro, “Jardim Ângela” da Viação Jurema, saia às 24:00. Perder um dos dois, era certeza de dormir na rua.   

No cursinho acabei fazendo parte de uma turma que curtia musica no Crazy Cat onde fiz algumas amizades, entre elas a Imma, com quem namorei e acabei casando dois anos depois.

Depois que comecei a namorar essa menina, que na época tinha 16 anos, tinha a responsabilidade de levá-la par sua casa depois das aulas. Ela morava na rua Souza Nazareth, travessa da 25 de março. Para acertar os horários saiamos uma aula antes do final.
Deixando-a em casa saía correndo em direção a Praça das Bandeiras esperançoso de pegar o “negreiro” da Viação jurema- Via Jardim Ângela

O stress de levantar cedo, trabalhar o dia todo, fazer cursinho, voltar pra casa no ultimo ônibus, acabava nos derrubando tanto no trabalho, como na escola. E somando tudo isso atrapalhava na  volta para casa.
Desde que iniciamos o namoro, logo na primeira semana, acabei passando duas vezes do meu ponto no inicio da avenida Guarapiranga.
Logo que entrava no veiculo já buscava um assento para me ajeitar de modo a encostar os joelhos nas costas do banco da frente assim me ajeitando para um longo cochilo.
Na semana seguinte, novamente passei duas vezes o ponto. Na época não havia acostamento e muito menos calçadas.
Era entrar no ônibus, sentar e já começava o cochilo. Depois de algum tempo desenvolvi a agilidade comum nos trabalhadores “dormir em pé” nas conduções quando estava apertado. Tudo corria bem se não houvesse brecadas bruscas.

O tempo foi passando e os cochilos foram aumentando.

Certa noite, na volta para casa, capotei de tal forma que só acabei ao chegar na garagem da Viação Jurema quando fui avisado pelo cobrador que era fim da linha.

Putz! Era quase uma hora da manha e eu estava na garagem... dez pontos depois de minha casa...
Cansado e sonolento fui para a rua a espera de possível condução.

Fiquei no ponto por 15 minutos, mas caí na real que ali não era seguro e nem tinha futuro, pois os carros das empresas se recolhiam a meia noite.

Eram quase 10 quarteirões da garagem até a minha casa..
Com sono e cansado me enchi de coragem e me pus em marcha.

Postes com luzes eram bem espaçados e tudo ficava muito escuro.
Fui caminhando às vezes rápido, outras vezes lento depois de levar 4 tombos pelos buracos que ia encontrando.

Durante todo o trajeto percebi que apenas um carro havia passado.

Bufando e xingando depois de quase uma hora e meia cheguei em casa. Cai na cama morto.

No diz seguinte, tentei ser mais esperto e pedi ao cobrador para me dar um toque ao chegar ao largo de socorro. Tudo certo.

Na semana seguinte, notei um cobrador diferente, tentei fazer amizade com ele, mas o cara também estava com sono e seguia dando os seus cochilos.

Acabei dormindo e acordei novamente na garagem.
Como já tinha experiência me coloquei em marcha e fiquei mais atento aos buracos. Mesmo assim cheguei morto de cansaço.
Essa aventura estava prejudicando meu trabalho e os estudos também.
Mas o namoro ia muito bem obrigado.

De vez em quando ainda perdia dois pontos por causa dos cochilos...

Novamente dormi além da conta e acordei na garagem.  Ficava P... da vida pois já sabia o que me esperava. Aquilo tudo estava me deixando cada vez mais louco.

Nada de ônibus, nada de carros...
De repente ao longe vejo um taxi com o luminoso aceso. Fiz sinal, mas o cara não fez menção de brecar. Pouco tempo depois vejo um carro dando voltando, era o taxi que passava de volta.
De novo o taxi passa por mim, fiz sinal novamente e ele parou 20 metros adiante.
Ele devia estar me estudando pensei.
Com receio fui chegando de mansinho quando de repente a porta se abre e escuto uma voz:
O que você esta fazendo aqui Luigy?
Tomei um susto diante do inusitado.

Meu pai tinha um Auto Elétrico e uma oficina mecânica no Largo do Socorro, onde trabalhei por algum tempo em minha juventude.

Chicão, era o nome do taxista amigo, que me deixou na porta de casa de carona.
Mesmo depois de minha explicação do acontecido, ele me deu bronca por estar vagando por ali naquele horário.
Me alertou que ali a barra era pesada na madrugada e que deveria tomar cuidado ou arrumar uma outra estratégia.

Depois de muito pensar, acabei arrumando uma nova solução.
Nos dias que estivesse muito cansando e nos finais de semana poderia ficar e dormir na casa da namorada com o consentimento de minha querida sogra.

Depois desse arranjo, o incidente nunca mais aconteceu.

Luigy