quarta-feira, 1 de maio de 2013

Terminal de trem cptm 49

Todo dia, naquela maldita hora
que martírio, que agonia
retornar, ir embora...
Desce a noite,
trazendo garoa e neblina

É gente que chega, é gente que vai...
Mas que importa tudo isso?
Importa ficar, permanecer e eternizar...

As horas não param, mas deveriam.
Relembrar momentos...
Bem bom viver,
E não ter receios,
Seus seios são belos

Quem sabe "lê" nas entrelinhas...
porém nada diz, nada fala mas observa
Talvez nas estrelinhas... talvez esteja escrito nas estrelas

O trem parte... levando
e devolvendo pessoas e destinos
Esse trem também parte muitos corações,
sem perguntar, sem consentimento
O trem separa pessoas
e nunca para, mesmo que se peça

Trem que leva gente pra longe
Traga esse povo de volta...
Há corações a espera.

e-mail do autor: luigymarks@uol.com.br

domingo, 28 de abril de 2013

Trezentos e sessenta e cinco dias -25

1969 -
Trezentos e sessenta e cinco dias depois, da virada de 1968, lá estávamos novamente subindo a Augusta, desta vez na virada do ano para 1969.


Desta vez em sentido contrário da passagem anterior, nossos passos começavam no inicio da rua ao lado do antigo prédio do Estadão.

Devidamente paramentado com uma mochila e barraca, partímos da Rua Xavier de Toledo em direção a Augusta como destino ao Parque do Ibirapuera.



As Rádios Difusora e Excelcior haviam divulgado uma noticia sobre a realização de um festival de música, no estilo de Woodstok que levaria o nome de “Lesma Azul e que contaria com a presença dos Mutantes, Tom Zé e diversas outras bandas.
Devidamente acionados, todos os bichos grilos, estavam a postos, esperando passar três dias acampados no “Ibira” curtindo um Som e fazendo make Love not war. Todo mundo numa Nice.Uma imensidão de cabeludos se dirigia para São Paulo para curtir aquilo que poderia ser um o maior festival depois de Woodstok e talvez o fato mais marcante que na área musical no Brasil.
A expectativa era enorme.
Noticias aqui e ali ajudavam a movimentar a ansiedade.



Com dois dias de antecedência começamos a nos preparar para concretizar nossa presença no Festival Lesma Azul.
A abertura seria numa sexta feira pela manha, finalizando no domingo a noite.

Devidamente arrumado, saímos na quinta feria a noite, às 20:00 na frente do Mappin. Uma procissão de jovens cabeludos com barracas e mochilas seguia animados quase despercebidos.



Na Augusta passamos pelo Estadão, com o transito já em baixa.
Íamos todos a pé cada um com seus pertences.
Seguíamos em procissão, mas cada um na sua sem que tivéssemos conhecimento de quem eram os que seguiam a frente ou os que estavam na retaguarda.
Nesse dia estava com um outro amigo, Gil, que tocava nos Snacks, banda do bairro Vila Nova Conceição.
O Gil e eu seguíamos animados com a perspectiva de participarmos de evento de tal magnitude e nosso objetivo era curtir um som e a vida. Alienação típica que jogavam pra cima dos chamados “hippies”
Logo cruzamos à Praça Roosevelt
Neste exato momento passa um carro com alguém que grita:
Viva a liberdade e abaixo a ditadura.
Outros carros seguiram também gritando.
As pessoas na rua olharam a manifestação sem interesse.



Era o ano de 1968.
Estávamos num dos anos mais difíceis com relação a política da nação brasileira. E um grito nesse estilo, soava como algo bem provocativo.
Seguimos em frente.

Ao cruzarmos a rua Caio Prado, surge a noticia que o festival havia sido cancelado pela policia e foi se espalhando boca a boca.
Aquilo era um balde de água fria.







Novas noticias diziam que o Exército havia cancelado tudo, para evitar qualquer tipo de aglomeração e também para evitar pessoas que fizessem apologia a maconha e coisas do tipo.



Pronto. Toda nossa expectativa de curtição tinha ido para o espaço.
A frustração era total. E isso deixou a todos sem rumo.
Conversas aqui e ali e nada.



Um grupo resolveu que continuaria em marcha rumo ao “ibira’, pro que desse e viesse. Um outro grupo surgiu com a possibilidade de seguirmos rumo a Iporanga, paraíso hippie próximo a Bertioga.
Achei essa opção mais atraente.



Fizemos meia volta para se juntar ao grupo em torno de umas 30 pessoas que pretendia seguir para a Iporanga de trem.
Ao cruzamos novamente a Rua Caio Prado, notamos a passagem de quatro peruas de C1416 da PM em alta velocidade com sirenes ligadas.
A maioria tentava entender o que estava acontecendo.
Em seguida duas peruas retornavam em sentido contrário fechando o cruzamento da caio prado e outras duas, enfim todo o quarteirão.
Ficamos todos sem entender o que acontecia.
Eles haviam fechado o quarteirão todo para prender alguém...



Nosso grupo aguardava curioso para ver quem seria o preso.
De repente os guardas avançam pra cima de nosso grupo.
Foi um tal de corre-corre.
Com a barraca pesada, não dava pra correr, acabei jogando a minha no quintal de uma casa e assim poder correr.
Que nada.
Fomos todos cercados e sendo forçados a entrar na chiqueirinho.
Sem saber direito o por quê éramos jogados na traseira da C1416 que saiam em alta velocidade pelas ruas com sirene ligadas.



Eram colocadas 10 pessoas em cada chiqueirinho das tais peruas. No total 20 pessoas foram presas.

Fomos levados ao prédio da policia sem saber onde estávamos.



Fomos colocados todos na mesma sala sentados ao chão. Ali passamos a noite.
A sala ficava no primeiro andar onde inicialmente éramos interrogados sobre o nível da escolaridade de cada um. Quem estava no ginásio e colegial iam para uma sala.
Os que cursavam faculdade tinha outro destino.
Ao todo eram 18 estudantes ginasiais e apenas dois universitários. Estes últimos foram levados para as celas.
Aos demais um discurso sobre disciplinas e civismo.
Em momento algum fomos informados sobre o motivo de nossa prisão e por que estávamos ali.



A cada meia hora éramos chamados por ordem alfabética e liberados.
Ao ser chamado fui informado que seria colocado em um ônibus de volta para casa do bairro onde morava com recomendação para descer somente no ponto final.



Fui levado para a rua aos empurrões.
Ao sair percebi que estava nas proximidades da antiga Estação Rodoviária Julio Prestes.
Ao Olhar para traz percebi que estivera preso no prédio do DEOPS aquele de tijolinho aparente.



Embarcado a força no ônibus devidamente abraçado a minha mochila, cheguei em casa em menos de uma hora.



Três horas estava de volta a Rua Augusta para tentar reaver minha barraca que havia jogado em uma casa.
Infelizmente jamais encontrei.
Mas nem por isso deixei de passar por ali.




Esta foi a passagem de ano mais triste que me lembro.