sábado, 25 de fevereiro de 2012

Minha primeira vez...com a namorada no cinema -43

Cedo na vida fui impactado pela sétima arte.
Aos seis anos de idade, descobri o cinema e ele me descobriu
Minha primeira sessão de cinema aconteceu numa exibição de rua como foi relatado em uma história o anterior publicado no site São Paulo Minha Cidade com o nome de cine paradiso minha primeira sessão de cinema.
Tal experiência me deixou encantado e deu asas a minha imaginação.

Ao passar da infância para adolescência ganhava autonomia para fazer minhas próprias escolhas de onde ir, assistir o quê, e com quem? 

Além das festinhas improvisadas de garagens e dos bailes de aniversários situações onde se podia dançar e se aproximar de uma garota, eram nas mantinês o local predileto pelos meninos para aprendizado e aperfeicomento dos beijos.
Depois da ansiedade e insegurança do primeiro beijo, os demais aconteciam se resistência.
A duração de duas horas de uma sessão de cinemahoras de duração no escuro era tudo que os jovens queriam para esse aprendizado, de preferência para quem já tinha sua 'sweet girl".
Mas nem sempre as coisas aconteciam como se esperava.

Nesse momento da vida estudava no vocacional, uma experiência maravilhosa em escola pública em período integral nos anos 60 que aconteceram no estado de São Paulo. Fui da 2ª turma de 120 alunos que passaram no exame de seleção. Entrei no ano de 1963.

Já no primeiro dia era feita uma gincana de acolhimento e integração de novos e velhos alunos e tambem com os professores.
Aconteciam brincadeiras com a intenção de colocar os recém chegados bem a vontade

O trabalho em equipe ocupava praticamente todos os momentos de estudos e salas de aulas no curriculo da escola. Quando havia entrosamento além da conta, as equipes, almoçavam e brincavam juntas, estendendo uma amizade além dos muros da escola.
Até então, meninas e meninos estudavam em escolas separadas ou classes separadas.
Para a maioria, o fato de estudamos juntos, fazia parte de um novo aprendizado.
Para os meninos, um cuidado especial em relação a determinadas brincadeiras e para meninas, se desgrudarem umas das outras.
Além das atividades em classe, saiamos em Estudo do Meio fora da escola dentro do período de aula fazendo pesquisa de campo, visitas ou entrevistas de acordo com determinados trabalhos.
A convivência diária dos dois sexos abria uma nova visão de vida para todos. Além de estudos, almoços, também aprendíamos danças regionais e saiamos em viagens em conjunto.

Viver lado a lado com garotas o dia inteiro era ao mesmo tempo uma delicia e um desafio. Dificil era prestar a atenção nas aulas.

Namoros e namoricos eram normais dentro da escola sem grandes preocupações dos professores, a não ser que determinado aluno deixasse de ir bem em suas avaliações. Quanto ao resto, corria tudo em paz.

De repente éramos flechados por algum cupido.  

Foi ali nessa escola que aconteceram minhas primeiras e mais significativas experiências afetivas de jovem.

Minha equipe era formada por 3 meninos e 2 meninas. As duas eram muito bonitas e cada qual tinha o seu charme. Uma delas tinha olhos azuis e a outra tinhas olhos cor de mel.
Inicialmente me interessei pelas duas, talvez pela questão da beleza. A de olhos azuis era falante e provocativa. A outra tinha um olhar meigo e um sorriso cativante.

De repente surge um interesse mutuo. Em conversas no corredor da escola alguem soltou que havua uma garota interessada em mim. Fiz minhas sondagens e descobri que era essa mesma pessoa que estava interessado.
Apesar de nossa convivência diaria de trabalho e estudos, falar diretamente de um outro assunto que você estava envolvido não era fácil. Sondei uma amiga dela para saber das possibilidades de uma investida erro.
Essa amiga comum disse que eu teria passe livre.
Um encontro para uma conversa séria foi marcado para depois da hora do almoço bem longe dos olhares da maioria.
Na hora certa e momento certo nos encontramos. Tentando controlar minha fala e acabando por enrolar a língua a pedi em namoro. E ela prontamente aceitou.
E ai?
Eu não sabia o que fazer.
Acabei agradecendo o sim e dei um beijo no rosto. Acho que ambos ficamos vermelhos.
Com o assunto resolvido, entendemos que deveríamos voltar ao convívio de todos.
Ao voltarmos percebemos que éramos observados por uma grande platéia curiosa de colegas de nossa classe. Alguns assobiavam e outros gritavam como se tivesse acontecido um gol.
Profundamente envergonhados, retornamos cada um foi pro seu canto.

A partir desse dia passamos a nos sentra um ao lado do outro, nos trabalhos em equipe e no almoço.
Tambem nos corredores e na hora da saida para pegar o ônibus para casa, ficávamos juntos na espectativa de ficar de mãos dadas.

Acabamos ficando num grude. Em algumas aulas era possível ficar de mãos dadas invertendo mão direita dela com a esquerda minha, debaixo da carteira.
Ambos fomos fisgados pelo cúpido.


Durante o dia nos movimentávamos pela escola inteira, pois cada disciplina tinha sua sala especifica. Matavámos nossa vontade de tanto andar de mãos dadas. Mas beijo que é bom, tava difícil, pois não queríamos dar bandeira.
Como quem procura acha, acabamos encontrando um momento perto da biblioteca 
ao subir para o andar superior percebemos que não havia ninguém no nosso campo de visão.









Entendi que era o momento certo e num abraço apertado trocamos um longo beijo teatral.
Não sei quanto tempo durou. Perdemos a noção.
Pra disfarçar eu subi e ela desceu para nos encontrarmos no pátio.

Minha cabeça rodava sem parar. Era emoção demais.
Acabei indo ao banheiro jogar água no rosto pois achei que minha temperatura tinha subido e meu rosto vermelho acusava isso.

Para não sermos pegos no flagra combinamos em ir ao cinema na primeira oportunidade para matar nossa vontade.
Como ela morava na Brigadeiro Luis Antonio combinamos um cinema perto da casa dela.

Domingo, 15 minutos antes de começar a matinê (14:00) lá estava eu.
De longe percebi sua silueta. Percebi que a seu lado estava uma colega do gv que eu conhecia.
Até ai tudo bem.

Ao me aproximar, mais uma menina se apresenta, como acompanhante, era sua irmã mais velha.

Fiz o que pude pra disfarçar, não sei se consegui?.

Acabei pagando a minha entrada e a dela.
Quando surgiu a oportunidade ela tentou me explicar que ao sair de casa, sua mãe fez pé firme que a irmã mais velha a acompanhasse ao cinema.
O combinado era levar uma amiga para ter passe livre com sua mãe e ficar de vela.
Bem na época eu tinha 13 e ela 12 anos.

Como o cinema era perto da casa dela, não me preocupei em saber o nome do filme.
Entramos e sentamos juntos. Mas ao lado dela sentou-se a irmã.
Percebi que meus planos estavam perdidos.
Tentei ficar de mãos dadas, mas a irmã ficava de antena ligada.
Resolvemos usar o mesmo artifício usado na escola usando as mãos invertidas. E assim ficamos o filme todo.
Sem ter outra coisa para fazer, acabei prestando atenção ao filme.
O filme era um espécie de documentário sobre um cachorro lobo Nik o valente indomável.
Tive certeza que não haveria qualquer tipo de beijo incentivados no filme.

Saímos do cinema com a ponta dos dedos doendo de tanto apertamos um ao outro.
Nos despedimos cordialmente, ambos frustrados.

Toda minha expectativa de usar os meus truques de beijos tinham ido por água baixo.
Voltei pra casa arrasado.

Namoramos durante um ano. Desmanchamos e reatamos sete vezes.
Mas nunca conseguimos ir novamente ao cinema.

Luigy 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

“Negreiro” Viação Jurema -42


Ao tomar conhecimento dos relatos “O ônibus negreiro” da Guarapiranga do colega Carlos
Fatorelli, novas lembranças acabaram se soltando de dentro da minha caixa de pandora.

Minha família, nada tinha de cigana, mas periodicamente estavam de mudança de uma região para outra e de um bairro para outro.
Aos 22 anos estava desta vez morando próximo ao largo de socorro no inicio da  av. Guarapiranga. Mas trabalhava no centro da cidade, na rua 24 de maio.
Acordava bem cedo na tentativa de pegar vazio o ônibus da Viação Bola Branca ou Jurema para ir sentado até o centro aproveitando assim para dar uns bons cochilos. Saía de casa às 6 horas pois entrava no banco às 8:00. Eram 40 minutos diários até o centro. O trajeto do ônibus seguia  em direção ao Largo Treze, continuando pela Av. Adolfo Pinheiro e atravessava de cabo a rabo a Avenida Santo Amaro parando de ponto em ponto para recolher pessoas. Depois seguia para a Nove de Julho percorrendo toda a sua extensão para no final descarregar o povão na Praça das Bandeiras. No banco o expediente ia até as 17 horas.

Para aliviar a tensão no trabalho, a diversão na hora do almoço era ficar na porta da Galeria do Rock apreciando o movimento e com os bolsos cheios de elásticos para atirar na poupança de cada popozuda que passava. Quase todo dia tinha encrenca...

Ao final do expediente nos reuníamos para uma ou duas cervejas no sujinho na galeria que fazia ligação com a rua Barão de Itapetininga.

Logo depois seguia a pé para o Cursinho Med na Rua Augusta.

Minha ultima aula acabava às 23:30. Saia correndo para pegar o “negreiro” que passava na avenida 9 de julho.
A última viatura da “Bola Branca” saía às 23:45 da Praça das Bandeiras.
E o derradeiro, “Jardim Ângela” da Viação Jurema, saia às 24:00. Perder um dos dois, era certeza de dormir na rua.   

No cursinho acabei fazendo parte de uma turma que curtia musica no Crazy Cat onde fiz algumas amizades, entre elas a Imma, com quem namorei e acabei casando dois anos depois.

Depois que comecei a namorar essa menina, que na época tinha 16 anos, tinha a responsabilidade de levá-la par sua casa depois das aulas. Ela morava na rua Souza Nazareth, travessa da 25 de março. Para acertar os horários saiamos uma aula antes do final.
Deixando-a em casa saía correndo em direção a Praça das Bandeiras esperançoso de pegar o “negreiro” da Viação jurema- Via Jardim Ângela

O stress de levantar cedo, trabalhar o dia todo, fazer cursinho, voltar pra casa no ultimo ônibus, acabava nos derrubando tanto no trabalho, como na escola. E somando tudo isso atrapalhava na  volta para casa.
Desde que iniciamos o namoro, logo na primeira semana, acabei passando duas vezes do meu ponto no inicio da avenida Guarapiranga.
Logo que entrava no veiculo já buscava um assento para me ajeitar de modo a encostar os joelhos nas costas do banco da frente assim me ajeitando para um longo cochilo.
Na semana seguinte, novamente passei duas vezes o ponto. Na época não havia acostamento e muito menos calçadas.
Era entrar no ônibus, sentar e já começava o cochilo. Depois de algum tempo desenvolvi a agilidade comum nos trabalhadores “dormir em pé” nas conduções quando estava apertado. Tudo corria bem se não houvesse brecadas bruscas.

O tempo foi passando e os cochilos foram aumentando.

Certa noite, na volta para casa, capotei de tal forma que só acabei ao chegar na garagem da Viação Jurema quando fui avisado pelo cobrador que era fim da linha.

Putz! Era quase uma hora da manha e eu estava na garagem... dez pontos depois de minha casa...
Cansado e sonolento fui para a rua a espera de possível condução.

Fiquei no ponto por 15 minutos, mas caí na real que ali não era seguro e nem tinha futuro, pois os carros das empresas se recolhiam a meia noite.

Eram quase 10 quarteirões da garagem até a minha casa..
Com sono e cansado me enchi de coragem e me pus em marcha.

Postes com luzes eram bem espaçados e tudo ficava muito escuro.
Fui caminhando às vezes rápido, outras vezes lento depois de levar 4 tombos pelos buracos que ia encontrando.

Durante todo o trajeto percebi que apenas um carro havia passado.

Bufando e xingando depois de quase uma hora e meia cheguei em casa. Cai na cama morto.

No diz seguinte, tentei ser mais esperto e pedi ao cobrador para me dar um toque ao chegar ao largo de socorro. Tudo certo.

Na semana seguinte, notei um cobrador diferente, tentei fazer amizade com ele, mas o cara também estava com sono e seguia dando os seus cochilos.

Acabei dormindo e acordei novamente na garagem.
Como já tinha experiência me coloquei em marcha e fiquei mais atento aos buracos. Mesmo assim cheguei morto de cansaço.
Essa aventura estava prejudicando meu trabalho e os estudos também.
Mas o namoro ia muito bem obrigado.

De vez em quando ainda perdia dois pontos por causa dos cochilos...

Novamente dormi além da conta e acordei na garagem.  Ficava P... da vida pois já sabia o que me esperava. Aquilo tudo estava me deixando cada vez mais louco.

Nada de ônibus, nada de carros...
De repente ao longe vejo um taxi com o luminoso aceso. Fiz sinal, mas o cara não fez menção de brecar. Pouco tempo depois vejo um carro dando voltando, era o taxi que passava de volta.
De novo o taxi passa por mim, fiz sinal novamente e ele parou 20 metros adiante.
Ele devia estar me estudando pensei.
Com receio fui chegando de mansinho quando de repente a porta se abre e escuto uma voz:
O que você esta fazendo aqui Luigy?
Tomei um susto diante do inusitado.

Meu pai tinha um Auto Elétrico e uma oficina mecânica no Largo do Socorro, onde trabalhei por algum tempo em minha juventude.

Chicão, era o nome do taxista amigo, que me deixou na porta de casa de carona.
Mesmo depois de minha explicação do acontecido, ele me deu bronca por estar vagando por ali naquele horário.
Me alertou que ali a barra era pesada na madrugada e que deveria tomar cuidado ou arrumar uma outra estratégia.

Depois de muito pensar, acabei arrumando uma nova solução.
Nos dias que estivesse muito cansando e nos finais de semana poderia ficar e dormir na casa da namorada com o consentimento de minha querida sogra.

Depois desse arranjo, o incidente nunca mais aconteceu.

Luigy

 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Pegadas no Planeta - 41


Pegadas...

Ao nascer fiz a minha aterrisagem,
nesta nave mãe que circula pelo Cosmos
Para me identificar
Meu pézinho foi marcado

Diferentemente dos outros animais,
Demoramos um outro tanto de tempo além da gestação,
Para sozinho poder caminhar.

A iniciação se dá no primeiro passo...
Depois dele tudo fica diferente.
Ganha-se liberdade, mobilidade...
Mas demora um pouco para ser prudente.

Tem inicio a caminhada,
Os primeiros passos na estrada,
Com eles ganhamos kilometragem, milhagem e bagagem 
No caminho nos juntamos a outros caminhantes
As vezes estamos em multidão, as vezes sozinhos
Mas caminhamos

Na estrada deixamos marcas
São pegadas, que o vento mais forte não consegue apagar

Deixamos nossas marcas
Em todos os cantos
Mas sentimos falta de lugares
Onde nossas marcas jamais estarão

Gostaríamos de juntar nossas pegadas a outras pegadas,
que infelizmente não sentiram a mesma falta.

Pegadas na terra, na areia e no asfalto
Deixadas no ar, no vento e no mar
Nossos rastros, poeiras e odores
Se misturam a tudo e todos sem parar.


Minhas pegadas levam a minha essência
E podem sem rastreadas
Embaralhadas, transmutadas
Mas sempre terão o meu DNA.


( imagens da net) 

Aqueles carnavais que não voltam jamais...40

Era um tempo onde reinava a alegria, diversão e um pouco de inocência juvenil... nos idos anos 50.

Pessoas com fantasia nas ruas.
As crianças se reuniam em bando para jogar lança-perfume nas pernas das mulheres que se assustavam ao sentir algo gelado subir pelas pernas ou então jogada nas costas desnudas das mocinhas que ao sentir o impacto gelado no corpo quente se encolhiam soltando gritos frenéticos e saiam correndo na direção de quem estava jogando.

Mas para quem não tinha muita grana, a saída era usar o “sangue de diabo”.
Uma receita bastante utilizada pela gurizada eram as bisnagas com sangue de diabo:
“Em um balde d’água com de 5/10 litros se colocava uma folha inteira de papel de seda vermelha (usada para fazer pipas). No balde era adicionado 5 comprimidos do laxante Lacto-Purga, seguido de um vidro de 5 ml de éter e algumas gotas de qualquer perfurme”. Parecido com as bruxas usavam um pedaço de pau para fazer a mistura e apurar aquele caldo. A meninada enchiam suas bisnagas e corriam para os semáforos a espera do farol fechar... carros e ônibus c/janelas abertas eram os alvos preferidos.
Aquilo pegava no olho e ardia pra caramba e se caísse em roupa branca ferrava tudo.
Meus pais, tios e tias se reuniam para pular o carnaval durante 4 dias no Acre Clube no Tucuruvi.
Todos iam fantasiados a cada ano com um tema novo. E levavam um arsenal  de lança perfumes, sacos de confetes e serpentina. E nas bolsas das mulheres, devidamente escondido garrafas de whisky que eram misturadas com guaraná.
Meus pais e tios se divertiam bastante e os comentários se estendiam por vários finais de semana.


No domingo e na terça era nossa vez, a criançada.
Meus primos e eu também nos fantasiávamos meio a contra gosto.
Durante vários carnavais meus pais me levaram as matines dos carnavais.
Aquilo se tornara um balsamo para mim.
A partir dos oito ou nove anos aguardava ansiosamente a chegada do carnaval por duas razões: Poder usar as bisnagas com sangue de diabo e a outra era para pular o carnaval.
A segunda era a mais esperada: depois da experiência inicial de ter dançado/pulado o primeiro carnaval com uma loirinha de olhos azuis de nome Sibele com fantasia de tirolesa, aguardava ansioso u novo carnaval para reencontrá-la.
Sem nenhum compromisso ou qualquer combinação, nos encontramos durante cinco carnavais. Mesmo sendo do mesmo clube, só nos encontrávamos o nos carnavais. Um ficava esperando a chegada do outro.
Pulávamos e brincávamos de mãos dadas durante o baile todo.

Sentíamos mais do que falávamos.
Risadas, olhares e mãos coladas uma na outra o tempo todo.
Ao final de cada dia, nos despedíamos com um beijo no rosto mas com sensação de uma longa história de amor...
 Ano a ano os encontros se repetiam com sentimentos e emoções revitalizadas.

Acabei mudando de bairro da zona norte para zona sul e como conseqüência não fomos mais ao clube.
Acabei perdendo o contato com ela, mas as lembranças boas ficaram gravadas.

Felizmente meus avós moravam no mesmo bairro.

Numas das visitas dominicais aos meus avós, fui dar um rolê pelo bairro e acabei passando pela rua da feira do bairro que ficava na rua casa forte.
Com meu primo ao lado percorremos a rua da feira sem qualquer objetivo.

Para evitar o tumulto e trança-trança dos carrinhos de feira optamos em seguir pela a calçada. A rua era larga.
Andando por detrás das barracas podíamos apreciar melhor as casas e a vizinhança.
Logo a frente havia um grupo de meninas, que de longe pareciam simpáticas.
Ao se aproximar das garotas tive uma sensação desconhecida e estranha como se algo fosse acontecer.
Meus olhos curiosos procuravam não sábio o que, mas vasculhava detalhes ou alguma de interesse.
De repente meu radar interno detectava uma figura familiar, ao avistar um par de olhos azuis...
Comecei a perceber em meu corpo sinais de comichões, coceiras e tremedeiras nas pernas.
Do outro lado, também acusava reconhecimento de alguma particularidade.
O grupo em volta da menina demonstrava que alguma coisa fora do normal acontecia.
Ao meu lado, meu primo percebeu nossa troca de olhares...

Tentando dominar sentimentos e sensações físicas fui ao seu encontro.
Trocamos um beijo no rosto e por algum tempo ficamos estáticos em frente a sua casa.
Sua mãe regava o jardim e percebeu nossa aproximação e constrangimento, mas acabou por me reconhecer abrindo um sorriso.
Tudo aquilo me deixou travado
Conversamos por alguns momentos ainda constrangidos, acabei anotando o numero de sua casa para trocarmos correspondência.

Aquele reencontro deve ter permanecido por algum tempo na cabeça dos dois...

Talvez pela distância e a falta de maior contato nos esquecemos um do outro...

Passados mais de 20 anos, era sócio de uma empresa com sede na avenida nova Cantareira, reencontro aquela loirinha, agora mulher feita e bonita.
Como era de se esperar uma nuvem de energia adormecida, de repente é despertada.  

Fomos tomar um café para colocarmos a conversa em dia.
Havia se formado em psicologia. Tinha uma filha de oito anos e estava separada.
Cada um falou um pouco de suas vidas e também relembrando parte de nossos passados comuns.
Conversamos e rimos um bocado.

Ao final nos despedimos com um beijo no rosto, talvez nosso último encontro...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Convivendo com a GVive - 39


Como ex-aluno existia dentro de mim uma necessidade, uma vontade, um desejo em reencontrar velhos camaradas.
Difícil encontrá-los? Não, era até bem fácil, pois a convivência diária após 4 anos em período integral reforçava os laços e a lembrança na ponta da língua do nome dos 120 colegas da turma de 1963 do Vocacional Oswaldo Aranha (Brooklin).


Buscando em listas telefônicas e pela internet, em pouco tempo era possível remontar as listas que a Secretaria da Educação não permita acesso.  

Meses de buscas me levaram ao Pátio, um local onde inúmeras turmas se comunicavam há anos.

Fui ao bar memorial pela primeira vez justamente no dia da fundação no dia 06 de agosto de 2005.
Fui convidado pela diretora que estava implantada para irmos ao Seminário da UNISAL em outubro de 2005 em Americana. Na volta participamos da vernisage do lançamento Livro Ensino Vocacional uma Pedagogia Atual.

Acabei me interessando por fazer parte do grupo de memória para colaborar no resgate documental e oral.
Fazendo parte deste grupo fui entendendo lado oculto dos bastidores sobre a extinção dos vocacionais. Com o grupo de memória acabamos visitando todas as unidades e fazendo novos amigos.

A GVive aconteceu no momento certo em que havia uma maturidade no ar própria ao seu surgimento.
Na sua quase totalidade, ex-alunos e professores mantiveram viva uma saudade imensa, e uma adoração ao vocacional. Como ex alunos, uma gratidão enorme pelos nossos professores.
Desde então alunos e professores, juntos trabalham em parceira para recuperação documental e um desdobramento para atualidade. 
Participar do grupo de memória tem sido um prazer enorme.
Acabei sendo convidado para ser vice-presidente na chapa de 2006/2008 com objetivo de trazer as outras unidades para junto da GVive.

Após muito esforço conseguimos unir todas as unidades e seus representantes em um encontro em fevereiro de 2009.    
Entrei na vida da associação no dia de seu nascimento e nunca mais consegui ir embora.
Existe uma divida de gratidão que recebemos por participar da experiência dos ginásios vocacionais que ainda está por ser paga. Com alegria e satisfação a conta vem sendo amortizada ainda em 2012.         

Luiz Carlos Marques – Luigy – turma de 1963 O.A.

A GVive, criação, atuação e missão. -38

A GVive, criação, atuação e missão.
De volta aos bancos escolares...


Os anos 50 clamavam por uma reforma e mudanças na educação.           

Em 1959 surge o “Manifesto dos Educadores” ao mesmo tempo do surgimento de  diversas experiências no Estado e no Pais.
Luciano de Carvalho, Secretário de Educação do Governo de Carvalho Pinto, em São Paulo, volta de viagem a Europa em busca de modelos que poderiam servir para implantá-los em sua administração.
Ao chegar soube da existência de uma experiência no Instituto Narciso Pieroni, eram as Classes Experimentais de Socorro sobre a direção de Lygia Furquim Sin que comandava uma excelente equipe de professores como Maria Nilde Mascellani, Olga Thereza Bechara, Odila Feres, Modesto Vasques e Itajahy Martins Feitosa.
Com o sucesso dessa experiência, o secretário procurou a educadora Maria Nilde colocando em suas mãos um desafio, criar um modelo que pudesse ser implantado para toda a rede pública do Estado.
Para que isso pudesse acontecer, foi criado o Decreto Estadual no. 38,643 de 27/06/1961. Com a aprovação da lei uma comissão foi criada para a criação dos Ginásios Vocacionais sob a coordenação do Serviço de Ensino Vocacional em 1961.
A expansão se deu em 1962 com a criação de três unidades, mais duas em 1963 e outra em 1968.
Em 1965, havia uma fila de mais de 150 municípios aguardando a instalação de uma unidade vocacional.
Alunos da ECA/USP fizeram em 1968 um documentário Ensino Vocacional sob a direção de Maurice Capoville e Rudá de Andrade retratando o cotidiano da escola.

O vocacional tinha uma filosofia própria e utilizava inúmeras práticas pedagógicas até hoje consideradas modernas.
A experiência inovadora bateu de frente com o regime militar e foi extinto em 12 de dezembro de 1969. Desde então tem sido copiado em parte, mas sem sucesso.
Mais de 8.000 alunos passaram pelas seis unidades vocacionais. Pelo curso de treinamento passaram mais de 800 professores.
Com o fim do período da ditadura, os participantes da experiência vocacional buscaram o reencontro.
Em 1984 Maria Nilde trouxe um texto sobre a fundação memorial vocacional.
E no ano seguinte, aconteceu um encontro de ex-alunos e professores no Colégio Equipe. Sementes foram plantadas.
Encontros de turmas e unidades aconteceram em diversos momentos
Mas a idéia da fundação não prosperava.
Nos anos 90 Maria Nilde reuniu ex-alunos ligados a área de comunicação com objetivo de produzir um filme que falasse sobre a experiência vocacional. A idéia não vingou.
Convidada Maria Nilde cria o Projeto Integrar adaptando a experiência pedagógica  do vocacional para a pedagogia dos trabalhadores em 1994.
      
Em 2002, sob a coordenação da profa Esmeria Rovai e Cida Schoenacker e outros professores for organizado um evento comemorativo de 40 anos de criação dos vocacionais na Assembléia Legislativa de São Paulo. O evento serviu para reunir professores e alunos que andavam dispersos.
Neste ano foram lançados dois livros que tinham por tema os vocacionais. Um deles Revolucionou e Acabou? Tese do ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci – da unidade de Americana. Um outro livro escrito por um pai de aluno de Batatais retratava  a experiência do fechamento da unidade vocacional Candido Portinari com o titulo de Martinho o Velho e o Tempo Novo.
Três fatos marcaram o ano de 2005 além da criação da GVive:                                                                      
1 - Encontros mensais de ex-alunos vinham acorrendo desde março desse ano
    Com a vinda do Canadá de um aluno muito estimado pelos colegas do Vocacional Oswaldo Aranha acabou por arregimentar dezenas de outros colegas via internet, proporcionando um grande encontro de ex-alunos e professores.
    O encontro foi um sucesso com a presença de mais de 250 participantes.
    A quantidade de pessoas presentes e a energia desencadeada acabou alertando a todos sobre a possibilidade de se criar alguma coisa usando essa energia  mobilizadora. Um novo encontro em julho, criaram-se diversas equipes para a formação de uma associação com objetivo de resgate da memória documental e afetiva do vocacional. 
    Após intensa preparação, um grupo superior a 200 pessoas da capital e de fora se reuniram no dia 2 de agosto para criar a GVive – Associação de ex-alunos, amigos e professores dos Ginásios Vocacionais com estatuto, objetivos e uma ata com 152 sócios fundadores. No mesmo ano obteve seu CNPJ. A associação caminha para a sua 5ª gestão.
2 - Em 25 outubro a GVive fez a sua primeira aparição participando do Seminário da UNISAL em Americana.
3 - No mesmo dia participou do lançamento do livro Ensino Vocacional Uma
pedagogia Atual organizado pela profa. Esmeria Rovai 

A associação vem participando de diversas manifestações e debates em prol da melhoria da educação pública e de qualidade. Também vem produzindo eventos ligados a essa área.

Hoje conta com mais de 620 associados.
Participa de diversos projetos educacionais com algumas instituições como CMFEUSP, CEDIC/PUC, FOEI/UNIP, UNISA, E. M. Des. Amorim Lima.

Foi parceira ativa nos documentários: Sete Vidas eu Tivesse, Ginásio Vocacional 40 anos depois, Vocacional, uma aventura humana e Ensino Vocacional em 9 min.
E também no lançamento do Livro da Tese de Maria Nilde Mascellani junto ao IEEP, Centro de Memória da FEUSP.

Tem alguns projetos em construção como:
- Kit Vocacional – pacote de livros, DVDs, livretos a ser doado para faculdade de educação e pedagogia do país e também para as bibliotecas de maior representatividade para servir de apoio e pesquisa.
- Preparação de curso sobre a filosofia e as técnicas utilizadas no SEV  a pessoas interessadas em aplicação.

Há muito trabalho a ser feito ainda.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ao 60 anos se forma como Advogado - Parte I - 37

Parte I  

Anos 30 - Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Filho mais velho de sete irmãos.
Jovem foi trabalhar de madrugada no Saladeiro (frigorífico) fazendo charque (desossava carne bovina) e ao final do dia poder levar pra casa os miúdos que eram descartados. E nas horas vagas trabalhava como tintureiro para aumentar sua renda para poder levar mais comida pra casa.                         Seu nome: Sebastião Marques

Seu pai, outrora um homem bem sucedido, sofrera um grande revés profissional nos anos 30, relacionados ao “crack” da bolsa de Nova York.

Tinha enorme gosto pelos estudos, mas por ser arrimo de família teve que optar somente pelo trabalho.

Além do esforço duro na madrugada dentro das geladeiras no frigorífico seguido  pela jornada na tinturaria, ele adorava jogar bola nos finais de semana.

Jogava em diversos times importantes da capital Sul Matogrossense.
Aos sábados vestia a camisa do Ipiranga e no domingo jogava pelo Comercial em categorias diferentes. Além de atuar nos times, ele também apitava jogos.

Depois do gosto pela leitura, o futebol era sua maior paixão.
Sofria calado ter abandonado os estudos ao final do 4º. ano no Colégio Dom Bosco.

Era querido dos padres, por sua dedicação aos estudos e seu interesse por filosofia.
Filho de macedônio, seu pai lhe contava as façanhas de Alexandre, o Grande – Conquistador do Mundo e filho da Macedônia.
Daí vinha sua curiosidade em querer saber cada vez mais sobre história e filosofia.

Trabalhava por necessidade por ser único que sustentava a família de dez pessoas (Os pais, ele e os 7 irmãos)
Sua carga de trabalho chegava a 16 horas diárias.
Mas ele tirava tudo de letra.
Jamais reclamava a esse respeito.
Entre algumas horas vagas ele ainda fazia empreitada de pintura de casas e prédios. Profissão que aprendera com um mestre dessa área, seu Demetrio (Búlgaro) 
Era no futebol que ele transmutava seu sacrifício em prazer.
Mesmo machucado se apresentava para jogar.
Apesar da estatura mediana (em torno de 1.60), era um centro avante goleador.
Seu time pouco perdia.
Se não ganhava na bola, acabava ganhando nas brigas em campo.

Essa também era uma das suas marcas, brigador.
Estava sempre na sua. Mas seu bom desempenho em campo atraia rivalidade e as vezes alguma inveja.
Não arrumava briga, mas não fugia de uma.
Se fosse afrontado partia pra luta e tinha uma pegada de direita arrasadora.
Enfrentava bruta montes levando quase sempre a melhor pela sua agilidade.

Motivado por brigas, depois de casado, acabou se transferindo para o Paraná para jogar no Londrina Futebol Clube como profissional, cidade onde nasceu seu único filho.
Além do futebol trabalhava nas Lojas Fuganti.



Em Londrina voltou a tocar serviços de pintura de prédios contratando pessoas para fazer o serviço.
Como isso não bastasse se interessou por fotografia e aprendeu a revelar suas fotos em casa.
Nesse meio de tempo fez amizade com uma médica recém formada que cuidava do tratamento de sua esposa que contraíra laschemoniose.

A cura da enfermidade estreitou a amizade da médica com o casal.
Após quase sete anos de casamento, ainda não tinha filhos.
A médica seu interessou pelo caso e deu inicio ao tratamento para fertilização pois a esposa tinha “útero infantil” e era preciso fazer diversos procedimentos  para desenvolve-lo.

Após certo período houve fecundação, mas logo em seguida foi perdida.
Como casal pretendia muito um herdeiro, fizeram nova tentativa para fecundação.
Ao completar 9 anos de casados nasceu o primeiro e único filho.
Para pagamento do tratamento, a jovem médica pedira para ser madrinha de batismo da criança.
Depois de completar um ano a criança contraiu um tipo de gripe que se transformou em Bronquite Asmática. Diversas tentativas de tratamento foram feitas, porém sem acusar resultado.
Ao saber de um médico em São Paulo, que fazia uso de novas vacinas com excelentes resultados, o casal acabou vendendo duas casas de suas propriedades para fazer o tratamento.

Após o resultado positivo na cura, optaram por ficar em São Paulo onde as chances de trabalho eram maiores no inicio da década de 50.

A cidade de São Paulo passava por grandes transformações e enorme crescimento. Havendo necessidade enorme de empresas no ramo de pintura de prédio.
Quanto mais serviços ele fazia, mas serviços apareciam. Sua empresa cresceu tanto que acabou abrindo um escritório para melhor atendimento na rua Xavier de Toledo colado ao Mappin. Quase se tornando um executivo. 
continua