quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Mais Longo Dos Dias -30

O Mais longo dos dias (passados dentro de um cinema)

Houve um momento em minha vida que cinema era mais sagrado do que missa.

Aos 14 anos de idade já estava em processo de rompimento com a igreja pela falta de respostas às minhas perguntas ou a não divulgação das verdades.

Depois de estudar em colégio de padres e pela obrigatoriedade de assistir a missa todos os domingos, acabei achando tudo meio sufocante

Sempre tive um lado espiritual muito forte dentro de mim, mas que esbarrava nos dogmas e ter que engolir a tudo de modo obrigatório.

Freqüentava então as missas da paróquia de São Dimas na Vila Nova Conceição. Mas o que era imperdoável eram os comentários jocosos sobre as roupas repetidas e risinhos de algumas pessoas todos os domingos.
Tal comportamento acabou por me levar a romper com essa rotina.

Estudei na Escola Meninópolis (Brooklin) e no Colégio São Alberto (perto do Paraíso). Tentando buscar respostas acabei por encontrar novos caminhos... 

Morando no bairro de Vila Nova Conceição, éramos bem servidos no quesito de cinemas.
Eram em torno de cinco salas de exibições ao largo da mesma avenida:  Cine Graúna-1960(Chaplin), Cine Guarujá (Excelcior), Cine Bruni Vila Nova-1966 (Cinelandia II), Cine Vila Rica-1963 (Del Rey) e Cine Radar. No Brooklim havia ainda o Cine Meninópolis e na Joaquim Floriano, o Cine Iguatemi.    
Entrando na adolescência, não perdia uma só mantinê. Com tal variedade de salas, as vezes dava até pra escolher.

Nessa época, os meninos andavam à caça nas matines especificamente para arrumar alguma namorada. Tentar era parte do jogo. Os resultados nem sempre satisfatórios.


No escurinho do cinema todos os gatos são pardos, então a ordem era atacar, enrolar ou puxar conversa mole e aproveitando para oferecer Dropes Dulcora ou Mentex para suavizar qualquer hálito. Se o papo colasse, era meio caminho andado. Quanto mais vivencia, melhor era o aprendizado. A ordem era arriscar sob pena de ficar sozinho.
(Fotos blogue cinelandia)
Com os hormônios fervendo éramos levados avante quase que sem perceber
Era a época da aproximação em relação as garotas e vive versa.

Garotas e garotos, tinham seus medos e receios, mas também tinham vontades e desejos. Era a energia parecido com um imã.
Iniciada a sessão, o escuro dentro do cinema pouco dava pra perceber algum tipo de beleza. O que valia mesmo era a paquera. Uma gracinha bem colocada poderia render o céu é o infinito. Uma palavra mal colocada colocava tudo em risco.

Hoje sabemos que o bom humor é a chave na paquera.
Aceito a gracinha, era o sinal verde quase que imperceptível para seguir adiante...

Perguntas sobre o nome, onde moravam e estudavam, se estava gostando do filme ajudavam a pavimentar a conversa. Ficávamos a espreita de algum pequeno sorriso, que hoje sabemos que poderia de incentivo ou nervosismo.
Mas ali nada disso era sabido

Depois de alguma conversa, passava-se a segunda etapa, que era tentar aproximação das mãos.
A procura pelo contato das mãos, calor delas acabavam por misturar as ansiedades.
As tentativas eram muitas. Os resultados eram menores.

Mas quando davam certo, corações quase pulavam de corpo de cada um.
Apertar a mão de uma garota até então desconhecida era empolgante, gerava energia de calor, satisfação e de bem estar.
Nas primeiras vezes, dava vontade de querer parar o tempo e assim permanecer para sempre.
Amigos mais experientes já usavam a técnica de posicionar o braço por cima da cadeira e do ombro da menina.
Mas esse era um passo ainda futuro.

Passávamos o filme inteiro a esperar uma cena de amor para tentar algo mais arriscado, um beijo no rosto ou nos lábios...

Para aquele domingo escolhemos o Cine Excelcior, o filme não ajudava muito, passava   Os Dez Mandamentos com 4 horas de exibição, era cansativo mas dava mais tempo para se fazer diversas tentativas...

A sessão começou às 14 horas e terminaria às 18.
Após muitas tentativas que ocuparam quase 4 horas com poucos resultados, resolvemos ficar para tentar para a sessão seguinte.
Fracasso total, pois o público já era outro.
Ao invés de ir embora ficamos indo pra cá e pra lá sem ter certeza do que fazer.

A lotação do cinema eram de 600 lugares. Éramos em 4 amigos.
Depois de muito perambular fomos novamente ao banheiro para fumar escondido.

Saindo do banheiro vimos algo no chão. Era uma carteira que aparentava estar bem gordinha.
A intenção era gritar, mas abafamos nossos gritos após abri-la.
Encontramos uma carteira com quase Cr$ 400,oo. A entrada para o cinema custava Cr$ 10,00.

Ao ver tanto dinheiro assim ficamos excitadíssimos.
Resolvermos ficar sentados na segunda fileira para observar se haveria procura.
Ali permanecemos por mais uma sessão de quatros horas.

Aguardamos calados, mas irriquietos, durante todo esse tempo.
Fomos os últimos sair da sessão ao final dessa sessão que terminou às 22 horas.

Na rua dividimos em quatro partes a grana e fomos para o Chico Hambúrguer na Galeria Bruni. Hambuguers, milkshakes, bananas splits... Comemos até não poder mais...
Depois compramos cigarros e soltamos fumaças até cansar e ainda sobrou muito dinheiro que ficou para a outra semana...

Mais tarde, disfarçadamente, deixamos a carteira vazia, mas com todos os documentos na caixa do correio do cinema.
Sim, foi errado. Politicamente incorreto. Éramos jovens, imprudente e imaturos, mas foi divertido.
Com o tempo a gente amadurece e toma prumo.
Luigy 15/01/2012   

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