quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Summer of '55 - Relembrando antigos natais 009

Se aproximava o natal de 1955.
Morava na zona norte de São Paulo, no bairro da Parada Inglesa, Tucuruvi

Acabará de completar 5 aninhos e estava empolgado com tudo que falasse sobre o Papai Noel.


Em casa e na escolinha esse era o assunto que dominava.
Na rua este tema também acabou entrando na roda.
Eram tempos de simplicidade e de lutas.

Mas nada impedia crianças de sonharem
Cada guri sonhava o seu sonho mais impossível.
Um queria ganhar um trenzinho, outro uma bola de futebol,
um outro um patinete... e eu queria ganhar uma bicicleta.
Na roda cada um contava a sua vantagem.
A imaginação corria solta.

A cada dia aumentava dobrava o tamanho dos presentes conforme o desejo de cada um.

Naquela época, a gente não tinha idéia do tamanho da pobreza da maior parte da população.
Não passava pela nossa cabeça que aquilo tudo era um mero exercício imaginativo. Desconhecíamos a real situação de nossos pais e a possibilidade de bancarem nossos sonhos infantis.

O natal estava mais próximo
Toda manha a gente se reunia para acrescentar um novo item sobre nossos presentes.

A festa da véspera de natal seria na casa de minha avó, que tinha uma casa bem grande.

Dois dias que antecediam o natal, minha avó e suas filhas já estavam nos preparativos para a comilança natalina.
Minha mãe com certeza estava preparando um cordeiro temperado com hortelã, comida predileta de meu pai. Minha tia traria um pequeno leitão. Minha avó, com fama de boa cozinheira, ia preparar um pato assado, que ela vinha engordando durante o ano. Fora isso haveria pavês, rabanadas, pudins e todas as castanhas típicas,

Com a chegada do natal, dava pra perceber que as pessoas pareciam mudadas, mais alegres com vontade ajudar uns aos outros.
Era fácil notar essa alegria.

Não me lembro de ter pedido nada de natal pra ninguém.
Mas me lembro de ter começado um desenho na sala de aula do prézinho.
Era o desenho do meu pedido ao Papai Noel, não sei por que não consegui acabá-lo na escola. Ao pensar nele, me deu certo medo, por que o velhinho poderia ficar sem saber qual seria minha intenção.
Enfim chegou o dia.
Durante boa parte desse dia, o vento trazia os mais diversos cheiros vindos da vizinhança. Era uma mistura danada que fazia a gente salivar.

Ao cair da noite, foram chegando meus primos e os tios.
Era um falatório e algazarra da criançada.

Comida e bebida a vontade com o pessoal querendo comer de tudo como se o mundo fosse acabar.

Houve farta trocas de presentes.
Acabei ganhando um pijama, dois pares de meias e uma camiseta. Isso fora tudo que ganhei.
Meio chateado fui para um canto relembrando que minha vontade era ganhar uma bicicleta. Ninguém falou nada a respeito.

Fui brincar com a turminha, acabei me esquecendo do assunto.
Bem mais tarde fomos para casa e cai no sono de cansado.

Acordei tarde, quase meio dia, quase pronto pra cair na rua, quando me lembrei dos presentes que ganhara... fiquei miúdo.

Perdi a vontade de ir pra rua por não ter o que explicar

Fiquei rodando pelo quintal meio sem rumo e querendo infernizar a vida de meu cachorro...

Minha mãe estava de saída para ajudar no almoço na casa de minha avó, para onde eu iria depois.
Minha mãe estava de saída para ajudar no almoço na casa de minha avó, para onde eu iria depois.
Do portão minha mãe gritou: por favor, meu filho, recolha para mim uns cobertores que estão ai no chão de meu quarto. São cobertores que saíram do varal, queria que guardasse eles no armário. Depois você pode ir para a casa da sua avó.
Não gostei nem pouco daquele pedido.
Sai resmungando, chutando baldes, pedras e tudo que via pela frente.

Ao chegar ao quarto de minha mãe notei que havia um monte de cobertores jogados um em cima do outro que pareciam uma montanha.
Pensei que era muito trabalho para mim...
Não gostei.
Colocando toda minha bronca para fora acabei dando um chutão naquela montanha como se quisesse destruir tudo.
Chutei forte e com raiva... e um grito alto saiu de dentro de mim.
Achei que tinha quebrado o pé, pois acertara alguma coisa bem dura que estava por baixo dos cobertores.
Chorei de dor e de raiva.

Minha mãe voltara rapidinho pois sabia o que estava acontecendo...
Quando a vi chorei mais ainda como se minha dor tivesse aumentado.
Disfarçando, ela perguntava o que havia acontecido?
Expliquei a ela o ocorrido
E ela disse que eu deveria ver o que havia embaixo...

Correndo tirei um por um os cobertores.
Quando consegui tirar o ultimo, surgiu uma bicicleta, toda azul e com campainha.
Chorei de novo de alegria e de vergonha.
Ria e chorava ao mesmo tempo.



Depois de muitas compressas no local, pude afinal ir pra casa da minha avó levando junto a bicicleta, mas sem ainda poder andar pois a dor estava forte. Somente no outro dia pude felizmente levar ela na rua para mostrar aos meus amiguinhos.

Ah! Com receio que tudo aquilo fosse um sonho, meu pai disse que dormi com as mãos agarradas ao guidão.

No outro dia, percebi que meu sonho sobre o Papai Noel, havia se acabado... 

Mas o espírito natalino permanece dentro de mim, com a renovação da vida, da paz e do aniversariante, O Cristo.

Luigy   01/12/2011

                 

    

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